Correndo até seu quarto, trancando a porta rapidamente e dando passos para trás, Rebecca está presa como um leão em uma jaula, e não sabe o que fazer para sair de tal situação. Apesar de acordada, sua mente parece descansar, ela não consegue pensar em nada que possa ser útil para ajudá-la a sair segura dali. Batidas na porta e chutes agressivos ameaçam derrubar a única coisa que a mantém longe das mãos de seu monstruoso pai.
O que Rebecca não entende é o porquê a porta ainda não havia desmoronado ao chão, se tratava de uma madeira velha e escura, por suas contas não deveria ter aguentado nem três dos forçados pontapés que o agressor havia dado contra ela. Algo parece a proteger, como se um anjo estivesse a livrando do risco de acabar ferida assim como sua mãe estava. E o barulho cessa. Parece que seu pai finalmente cansara.
Rebecca suspira fundo, extremamente aliviada. Até que pensa ver uma luz sair de volta da sinistra caixa, parece que algo brilha dentro dela. Rebecca decide ver do que se trata. Abrindo devagar o antigo objeto, a luz some e Rebecca fica assustada imaginando ter sido algo de sua cabeça. Ela hesita em abrir o livro, mas decide pensar mais um pouco a respeito. O som de uma porta batendo parece indicar que seu pai havia se retirado para a rua, então a menina fecha a caixa se levanta, indo em direção à porta e posicionando o ouvido na mesma, a fim de ter certeza de que o silêncio estava predominando no andar de baixo.
Obtendo resultado positivo, Rebecca cuidadosamente abre a porta, que range parecendo informar que não demoraria muito a cair. Descendo as escadas, ela se depara com o corpo de sua mãe estirado ao chão.
一 Mamãe! 一 grita a inocente garota, correndo em direção a Elisabeth.
O vestido azul claro e rendado em detalhes de Elisabeth estava banhado em sangue, seus olhos verdes estavam sem vida e sua pele gélida como a de um cadáver. O que ela, aparentemente, havia se tornado. Elisabeth estava morta, e embora soubesse disso, Rebecca ainda a sacudia aos prantos, chorando e repetidamente dizendo a mesma palavra várias vezes: Não!
Uma tremenda fúria toma conta da amargurada jovem, cuja pode sentir sua inocência virar ódio. Ela perdera a única pessoa com quem podia conversar, a única pessoa na qual presava pela vida. Ela perdera sua tão amada mãe.
Correndo até o quarto e apanhando um lençol, Rebecca retorna, o estendendo em sua agora falecida rainha, tapando-a para que não tivesse que ir a loucura vendo o cadáver de quem mais amava. Pensativa e inconsequente, Rebecca sobe as escadas e apela para o que não pode brincar. Retirando a caixa de baixo da cama, a garota não pensa duas vezes antes de abrir o livro enquanto chora incansavelmente em cima do próprio objeto.
Abrindo e folhando a esquisita obra, Rebecca nem mesmo sabe o que procura, ela apenas deseja encontrar algo que de alguma forma possa tirá-la de tal situação. É quando uma ventania invade o quarto pela janela e o vento folha as páginas escritas em sangue do poderoso livro. Indo embora em instantes, o vento parece ter lhe mostrado o que fazer... No livro está à vista uma página que fala sobre ressuscitação. Interessada e em desespero, Rebecca apanha os amuletos da caixa e arranca a página do livro. A pior coisa que poderia fazer.
Correndo até a cozinha e apanhando uma faca, a menina se dirige ao corpo de sua mãe, destapando a falecida e jovem mulher que havia lhe dado a vida e, sem pensar duas vezes, colocando o colar em seu pescoço e o anel em seu dedo, ela começa a recitar o que a escrita de sangue dizia:
❝ 一 Oh, grandioso mestre... que o inferno criastes e legiões dominas... Oh, grandioso mestre... eu lhe ofereço meu sangue e toda a minha energia em troca de um pequeno favor, a ti servirei. Oh, grandioso mestre... Ordene ao teu servo da morte que cancele a entrada desta simples alma no teu fervente reino do obscuro submundo. Oh, grandioso mestre... Se contigo já habita esta humilde alma à qual te peço, à qual te imploro a mais rápida devolução, me envias ela e a ti agradarei. Oh, poderoso mestre! A ti sereis grata e a ti devereis toda a minha vida e toda a minha essência, grandioso mestre a quem servirei. Ouça minha prece, conceda o meu desejo, e eu serei teu escravo até meu último suspiro, a minha última palavra e o meu último adeus. ❞
一 Rebecca faz um leve corte em seu braço, derramando sangue diante do peito de sua mãe.
A garota nem imagina o que acabara de fazer, o que acabara de se tornar e o que acabara de escolher. Ela optara por vender sua alma e sem saber, estava destinada a escuridão. Estava no caminho de se transformar em uma bruxa, e na época em que vive, bruxas não obtém finais felizes.
Em instantes os olhos de sua mãe piscam, Elisabeth levanta e sorri para sua filha, ela parece não saber o que se passara na sala. Rebecca está paralisada, como seria possível ela estar viva mais uma vez? Então ela abraça forte sua mãe, que a pergunta o que era aquilo em seu pescoço e porque estava deitada no chão e sangrando.
一 Está tudo bem mamãe, está tudo bem... 一 são as únicas palavras da mais nova Rebecca, que libertara algo que está fora de seu conhecimento na tentativa de salvar sua agora ressuscitada mãe, a quem deve inúmeras explicações.
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