A Maldição da Caixa [Parte 2]


  Na caixa havia um livro com aparência de muito antigo. A capa era de cor vermelha, continha um pentagrama invertido desenhado, sendo todo ele de couro. Rebecca nem pensa duas vezes antes de abrir a antiga obra, nem se dá conta de que apenas pelo símbolo já se era de imaginar que não se tratava de um mero conto de fadas ou qualquer outra coisa que ela já tenha posto as mãos antes.
  Ao abrir, uma folha em branco fez da garota ainda mais curiosa. Passando a mão na página e virando-a instantaneamente, Rebecca finalmente se depara com algo que pudesse ler. Escrito por uma espécie de tinta vermelha que Rebecca não sabia identificar, estava um texto declaratório na folha amarelada da possível relíquia:

❝ Antes de mais nada, devo deixar claro que este conteúdo estava guardado por um motivo em especial. Eu sou alguém a quem você jamais saberá o nome, por motivos óbvios de autoproteção. Lamento-te o fato de ter esse objeto em mãos... Espero que não se arrependa de tê-lo retirado da caixa, mesmo sabendo que cedo ou tarde se arrependerá. 
  Esse texto está sendo escrito com meu próprio sangue, assim como todo o livro estará. Devo avisá-lo que pense muito antes de ler desta página em diante, pois assim que os segredos são revelados eles devem se manter privados do restante das pessoas, não importa quem sejam. Esse livro contém muito poder, tanto para o bem, como para o mal. 
  Me sinto na responsabilidade de lembrá-lo que o mal não possui dono e que mesmo que dominado temporariamente por você, ele também pode afetá-lo de alguma forma. Então, é recomendado que use os demais objetos que estão embrulhados em um retalho dentro da caixa, eles servirão para sua proteção. 
  Escrevo este texto em meu estado de pós morte, pois em algumas horas serei queimada na fogueira juntamente a meu clã. 
  Os feitiços das páginas seguintes são altamente perigosos. Então é importante que você domine o assunto e tenha a consciência de que tudo o que você fizer, também pode ser usado contra você. Use este objeto com sabedoria e não banque a morte com ele, pois lembre-se: “Todos os atos cometidos por você, resultam em alguma consequência, seja ela positiva ou negativa, tudo depende de você. Faça o bem, e terá o bem. Faça o mal, e colherá o mesmo.” O conhecimento é a chave para o sucesso, domine o assunto e obtenha o desejado! Qualquer coisa que venha a dar errado em seu feitiço, virá a amaldiçoar todo o seu primogênito até o sétimo filho, ao qual seu legado deve ser passado ou causará grande consequência às próximas gerações de sua família. Levando muitos, à própria morte. Portanto, tenha a consciência de que tanto o Diabo, como o seu próprio Deus, podem voltar-se contra você. ❞

  Rebecca estava pasma diante a leitura que acabara de fazer, ela sabia que havia veracidade naquelas palavras e tinha indecisão de se deveria seguir daquela página em diante, ou não. Seu corpo tremia e ela podia sentir o quão acelerado seu coração estava. Então, temendo a fazer a escolha errada, previamente ela decide pensar sobre o que faria dali em diante.
  A garota põe a descoberta ao lado da caixa e apanha o pedaço de pano que havia dentro dela, retirando-o de cima dos objetos que ele escondia e revelando o que o livro relatava que a protegeria caso decidisse lê-lo. Rebecca agora têm em mãos um colar de prata com um pingente da estrela de Davi. Um pentagrama... Sua futura, ou não, proteção. Junto ao colar estava um anel provavelmente também de prata, no qual continha uma pedra negra que, inclusive, parecia um cristal. Toda luz que nela refletia soltava pequenos raios que ofuscavam a visão à sua volta. Até que Rebecca finalmente se da conta de que, a parte interna da caixa, estava toda composta por inúmeros símbolos.
  Algo em Rebecca dizia que ela não deveria seguir em frente na leitura daquela preciosidade... porém, ela lutava contra sua imensa curiosidade e algo no assunto a interessava intensamente.
  Pondo a descoberta de volta na caixa e a escondendo debaixo da cama, Rebecca sabia que jamais poderia contar sobre ela à sua mãe, ou a qualquer um que fosse. Não só pelo fato de que o texto pedia, mas também porquê sabia que se seus pais soubessem de seu achado iriam se livrar dele ou tomá-lo dela.
  O silêncio já predominava o restante da casa, finalmente eles haviam parado de brigar. Rebecca levanta e cuidadosamente destranca a porta do quarto, esta que range ao ser aberta. Rapidamente ela espia o que se passa no primeiro andar. E nada... Seus pais não estavam mais na sala e mesa ainda estava pósta como antes da discussão começar. Rebecca olha todos cantos da casa até que finalmente encontra sua mãe agaixada no chão da cozinha e de costas para a varanda. Elisabeth está a chorar, então, ao pôr a mão no ombro de sua mãe a fim de consolá-la, Rebecca fica extremamente chocada com o estado em que ela se encontra.
  Rapidamente a menina corre para o quarto a fim de achar panos para estancar o sangue que vem do rosto da pobre mulher. Seu pai desta vez havia ido longe demais, sua mãe estava com um corte profundo que rasgava desde a metade da testa até seu olho esquerdo. Ela estava cega... Sua boca escorria sangue devido a seus dentes quebrados e sua roupa estava completamente rasgada. A garota finalmente encontra um pano, com o qual corre diretamente em direção a sua mãe e a entrega, preocupada e assustada. Rebecca não conseguia dizer sequer uma palavra, somente conseguia chorar e abraçar sua grande estrela da vida.
  A menina se dirige à rua a fim de ver onde estava seu violento pai. Mesmo que pedisse ajuda, sabia que ninguém optaria por socorre-las, estavam em tempos machistas e a mulher não tinha nenhuma importância perante a sociedade. Exceto seu uso doméstico e a reprodução muitas vezes contra sua vontade que ocorria muito na época. Até que a porta se abre, e por ela passa seu pai juntamente com a brisa da fria tarde. Ele vai direto em direção às duas, então Rebecca se levanta e fala corajosamente:
  一 O que você quer aqui? Olha o que você fez com ela, isso já não é o bastante?!
  Sem dizer sequer uma palavra, seu pai se vira e apanha um palanque que deixara perto da janela, provavelmente o usado para espancar a esposa. Rebecca arregala os olhos e corre em direção a seu quarto aos prantos... de esquecendo do estado de sua mãe, que não tinha condições de segui-la.
  Quando a garotinha se da conta e volta para ajudar a  mãe, se depara com a mesma atirada no chão enquanto seu pai a bate com a madeira. Elisabeth quase nem consegue lutar, o que fazia da briga ainda mais grave. Rebecca da um passo para a frente, até que é obrigada a dar o dobro, talvez o triplo, para trás. Ele estava vindo em sua direção.

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