Os Devoradores de Crianças

Desde pequeno em toda véspera de Halloween minha mãe conta sobre a lenda dos devoradores de crianças... Eu não acredito que seja verdade mas vou contar o que sempre ouvi todo dia 30 de Outubro...

  Há algumas décadas em uma aldeia da Flórida, vivia uma tribo indígena cujo maior costume era o canibalismo como ritual. Em todo dia de Halloween essa tribo fazia um banquete em torno de uma fogueira como comemoração por ter tido um farto e tranquilo ano(sem serem expulsos de suas terras ou escravizados pelo homem branco). Seu ritual era realizado em torno da meia noite e devo lhe informar que a carne ritualística não era de um humano qualquer. A carnificina da seita não era nada mais, nada menos que carne infantil, de meninas e meninos de idades entre 1 a 12 anos cujos eram encantados pelos índios e índias que vestiam algo em especial: um manto cinzento e uma cabeça de abóbora. Acredita-se que o encantamento era dado por poder pagão, onde os espíritos indígenas que a tribo protegiam proprorcionavam aos membros da tribo hipnotizar as vítimas, nas quais seguiam os índios(as) sem questionar até diante da fogueira onde era cozinhadas e saboreadas pela aldeia canibal, que como em todo ritual, ofereciam algo aos espíritos em troca de mais um ano de extensa tranquilidade: o coração e as vísceras dos jovens falecidos. Conta-se que a seita anual levou fim quando um grupo de moradores, ao descobrirem a tradição da tribo, irritados por terem seus filhos mortos foram até a aldeia e exterminaram os canibais cruéis. Dizem nos dias de hoje que por terem sido mortos, os índios amaldiçoaram a terra e em todo novo evento de Halloween suas almas levantam de seus túmulos para dar continuidade ao ritual, porém, desta vez não por tradição mas sim, por vingança.

  Minha mãe conta essa baboseira todo ano, já houveram vezes que ela me impediu de sair de casa para comemorar o Halloween pois disse que era perigoso e eu poderia não voltar. Bom, hoje é dia 31! E eu e meu amigo combinamos de sair para assustar as criancinhas idiotas da região que acreditam nessa besteira toda, acho engraçado que mesmo acreditando elas não perdem de sair para mendigar doces na casa da vizinhança. Minha mãe me falou que o cemitério da cidade foi construído em cima de onde os índios foram mortos... Não sei se ela acha que isso me assusta mas isso só me dá mais vontade de provar para ela que ela está errada. Eu e Phill vamos passear pelo cemitério hoje, fantasiados de Devoradores de Crianças para assustar a pirralhada da cidade... Aposto que esses bandos de medrosos vão se borrar todos e correr para os braços de suas mamãezinhas quando nos verem vestidos iguais os personagens da lenda, não vejo a hora de começar.

~23:30 p.m~

  _Hey, Phill! Coloca sua lanterna acesa dentro da cabeça de abóbora e veste! -falei tocando o manto para Phill e largando a mochila em cima de um caixão.
  Alguém pareceu estar se aproximando...
  _Anda logo cara, tem gente vindo! -apressei meu amigo lerdo.
  Uma silhueta foi se aproximando vinda da escuridão...
  _O que vocês estão fazendo aqui? Aqui não é lugar para brincar seus babacas inconsequentes! -era o coveiro.
  _A gente já vai em bora tio! Foi mal! -disse Phill me olhando com cara de quem diz: "Viu! Se esconda."
  Ficamos à espreita durante uns 15 minutos.

~23:50~

  Estava demorando para aparecer alguém, parece que todo mundo acredita na lenda mesmo, nem sinal de alguém...
  _Ali! Ali! -disse baixinho apontando para uma sombra do que pareciam duas crianças fantasiadas carregando aquelas bolsinhas feitas de abóbora para carregar os doces, elas se aproximavam cada vez mais do portão do cemitério, elas iam passar reto, isso era certo.
  _Uuuuuuhhh! -me revelei seguido de Phill a fim de assustar os dois medrosos que já estavam à frente do portão.
  _Aaaaaaah, corre, corre!! -disse um deles correndo para bem longe de nós.
  Rimos muito, estávamos satisfeitos com a palhaçada de quase matar alguém de ataque cardíaco. Até que...

~00:00~

  Uma brisa forte cobriu nosso olhos, por um momento uma ventania tomou conta do cemitério, enquanto o restante da cidade estava normal. Fechei meus olhos e Phill os dele, poeira e terra voavam junto às folhas de lápide a lápide como se um tornado estivesse se formando bem diante de nós, ficou frio, mas o frio só durou alguns segundos... Algo começou a aparecer diante de nós, parecia estar se formando.
  _Mas... Co... -eu nem conseguia falar direito.
  Estava lá, diante de nós, uma cabeça de abóbora flutuando e seus olhos brilhavam intensamente. De repente quando nos demos conta, o cemitério estava tomado de abóboras flutuantes e todos apontadas em nossa direção. Sob elas algo começou a tomar forma, eram corpos, estavam aparecendo corpos vestindo-as, e eles todos continuavam parados, olhando para nós. Eu não sabia o que fazer, estava pasmo diante daquilo, nunca havia imaginado que minha mãe pudesse estar certa o tempo todo, sem dúvida aquilo me assustava, me aterrorizava, eu não conseguia me mover, estava congelado devido a situação.
  Até que Phill toma atitude e retira da cabeça a grande abóbora que escondia seu rosto tocando ela em direção à criatura mais próxima, ele corre em direção ao portão, mas algo o impede.
  Segurando seu ombro e atravessando sua mão até o coração de Phill, uma das abóboras tira a vida do meu melhor amigo em minha frente. Eu não entendia o porquê eu continuava lá, intacto, mas hoje eu sei porque. Apesar de a lenda nunca ter falado sobre isso, havia uma maneira de enganar os Decoradores de Crianças: vestir uma cabeça de abóbora.
  Milhares de crianças foram mortas essa noite, e a culpa foi minha. Meu amigo morreu, e eu não fiz nada para impedir. Acho que o unico pirralho cagão que essa cidade realmente abriga, sou eu mesmo. Eu estava errado, a lenda era verdade, apartir de hoje eu vou ouvir minha mãe e, apartir de hoje, meu Halloween nunca mais será o mesmo.

βy: natyh

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