Jingle Bells (Especial de Natal)

É natal. Droga! Data pagã de novo!... Desculpe, é que eu odeio o natal. Bom, eu até já gostei dele, mas isso foi a anos. Melhor eu te contar porque não gosto desta comemoração anual, espero que me entenda, tenho um motivo em especial, vou lher apresentá-lo:

Eu beirava a faixa dos 6... 7 anos... era bem pequeno, mas apesar disso, me lembro claramente de tudo o que aconteceu, você já vai entender o porquê, assim espero...
  Venho de uma família americana bastante tradicional, quando pequeno, meus pais sempre me obrigavam a participar profundamente das datas comemorstivas: Natal, Páscoa, Halloween e todas as outras em que o povo fica feliz em não trabalhar! Mas em meio a tantas datas que comemorei, o natal de 1995 foi o dia mais marcante e inesquecível de toda a minha vida.
  Lembro que naquela noite meus pais haviam bebido muito e, apesar de a família toda estar reunida, fiquei o tempo todo sozinho, porquê eu era o único que tinha 6 anos na família inteira, o resto todo tinha idade acima de 13, 14 anos... Meu entretenimento foi meu cachorro a noite toda, Buster, meu fiel companheiro, diria até que meu melhor amigo. Eu o amava como um irmão que nunca tive, pois eu era, e sou, filho único.
  Quando moleque eu acreditava muito no Papai Noel, adorava o natal, todo ano ficava ancioso para montar a árvore na qual enchia de penduricalhos pois acreditava que quanto mais bonita e cheia de enfeites, maior seria a chance de eu receber a visita do "bom velhinho" e  maior seria o número de presentes que eu iria ganhar. Crianças... cheias de ilusões!
  Apesar daquele dia ter parecido extremamente longo, fomos deitar cedo, por volta da 00:30 eu já estava na cama e meus pais em sono profundo. Eu sempre ficava animado com o natal e, normalmente, em todo dia 24 de dezembro eu ficava acordado durante horas, esperando o famoso Papai Noel, curioso se ganharia o que pedi na carta que pendurava a cada ano uma nova na arvorezinha natalina. Tal envelope que sempre sumia dias antes do natal e eu, como toda criança iludida caia na inocência de ter sido levado pelo velho Noel. Haviam muitas pessoas na casa àquela noite durante o jantar e, antes de ser mandado dormir, eu pedi a minha mãe para verificar a árvore e ver se haviam presentes. Ela sempre me deixava abri-los somente na manhã do dia 25, algo diferente das outras famílias, mas eu não questionava.
  Buster sempre dormia comigo nos pés da cama, mas àquela noite algo o acordou, um barulho que vinha do andar de baixo, tudo indicava que da árvore de natal, eu também ouvi. O som era de sinos, e eu havia pendurado muitos na árvore, justamente como estratégia para que se eles viessem a tocar, seria sinal de que o "bom velhinho" estaria no andar de baixo. Fiquei animado, foi a primeira vez que aquilo aconteceu e minha curiosidade e o fato de Buster não estar mais na cama fizeram com que eu saltasse dela e fosse silenciosamente em direção às escadas, que por sinal, eram longas. Fui descendo os degraus e a cada cinco passos chamei o nome de Buster em forma de cochicho, admito que também para disfarçar caso meus pais estivessem acordados. O fim da escada dava de frente para a sala, onde no canto da parede ficava a árvore de natal e os presentes, na parede três meias natalinas serviam de decoração, uma de cada tamanhome cada uma com o "nome" de um de nós: eu, papai e mamãe. Não hesitei, espiei a árvore e sinistramente uma música começou a tocar no cômodo ao lado:
  - Jingle Bells, Jingle Bells, Jingle all the way... ♬♪
  Aquilo me assustou, corri para desligar o que quer que fosse que estivesse tocando aquilo. Fiquei com tanto medo que até esqueci de Buster e subi para o quarto logo em seguida. Quando estava no topo da escada, ouvi sinos tocarem de novo e quando olhei para a sala o som parou, e assim que virei de costas a música voltou a tocar:
  - Jingle Bells, Jingle Bells, Jingle all the way... ♬♪
  Virei em olhos na escuridão da casa e não sei de onde tirei coragem mas desci para desligar o rádio de novo. Pensei ouvir passos na sala ao lado e quando me virei para conferir, vi a sombra da silhueta de alguém subindo as escadas, parecia alguém grande, arrastando um saco e vestido de Papai Noel, pois pude perceber que usava toca de natal... pensei ser o sono me pregando peças então ignorei o que vi e voltei para o quarto, assim me tapei. A porta de meus pais estava aberta, então dei como explicação ter sido meu pai. Quando eu já estava me consolando de que Noel nunca apareceria para mim, ouvi o que parecia o som de alguém arranhando o chão vindo do quarto dos meus pais, o piso era todo de madeira, assim como as paredes da casa. Então desci imediatamente da cama imaginando ser meu cachorro tentando cavar o assoalho do quarto dos meus pais, pois Buster sempre fazia isso, era como ele afiava as unhas.
  - Buster! - chamei seu nome enquanto empurrava levemente a porta do quarto onde meus pais dormiam.
  Buster não estava no quarto, meu pai estava virado de bruço de costas para a porta e minha mãe não estava na cama. Foi quando escutei alguém cochichar do andar de baixo:
  - Venha abrir os presentes!
  Imaginei ter sido minha mãe então corri imediatamente para o primeiro piso em direção a árvore. Chegando nela percebi um pacote de presentes a mais e ignorei o fato de não haver ninguém me esperando em frente a árvore, fui logo abrindo o presente extra e o que havia nele me chocou...
  Era a cabeça de Buster, totalmente ensanguentada, seus olhos abertos e sem vida me fizeram chorar desesperadamente. Gritei por meus pais diversas vezes aos prantos mas ninguém apareceu. Eu estava com a cabeça do meu melhor amigo em mãos, pois como toda criança anciosa por um novo brinquedo eu só havia puxado o presente da caixa sem analizar antes o que nela havia. Larguei o crânio de meu mascote no chão e corri para o andar de cima a fim de acordar meu pai. Para a minha surpresa, ele não estava mais na cama mas havia um rastro de sangue que ia dela, até o guarda-roupa, segui a trilha e abri o armário, me deparei com o corpo do meu pai que caiu de imediato para fora do roupeiro, sua garganta estava cortada e jorrava sangue. Tudo parecia um pesadelo, fiquei desesperado, assim que virei para procurar minha mãe vi aquela mesma silhueta descer as escadas. Me desesperei e corri para meu quarto, assim como toda criança tola, me escondi debaixo da cama... onde suspirei fundo de olhos fechados, tentando me acalmar e parar de tremer mas quando abri meus olhos vi o corpo de Buster jogado à minha frente em uma poça de sangue inteiramente fresco. Não suportei o fato de estar ao lado do cadáver de meu amado cão, então sai lentamente de baixo da cama e espiei o lado de fora do quarto. Tudo parecia calmo, então imaginei que o intruso já tivesse ido embora, mas quando desci as escadas para checar, na mesa de jantar vi um pacote de presente. Fiquei com medo, mas curioso, então abri o pacote e me arrependi disso... se tratava de partes do corpo de minha mãe, assim que vi aquilo percebi que alguém me observava em frente a porta principal da casa. Então olhei com meus olhos cobertos de lágrimas e vi a criatura responsável por tudo aquilo. Ela era extremamente peluda, possuía olhos grandes e escuros, grossos e pontiagudos chifres em sua cabeça, vestia roupa de Papai Noel e continha um imenso saco vermelho em suas mãos, que aparentemente, carregava o restante do corpo de minha mãe. Vi aquela criatura retirar do saco uma carta e tocar em minha direção enquanto dava um leve sorriso assustador com seus dentes amarelados e barba acinzentada. Jamais esquecerei o que na carta dizia:
  " - Querido Papai Noel, guarde minha família. " - eram minhas próprias palavras, meu pedido de natal.

By: natyh


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