O Cachorro da Minha Vizinha

Me mudei para uma casa nova. Ela é bem vazia, e a poucos quarteirões há um grande matagal que só de passar à frente me arrepio dos pés ao pescoço. O povo da vizinhança é bem sinistro, e dizem que muitas crianças e adolescentes já sumiram por aquelas matas, o que aparenta ter causado medo em mamãe, que me impôs limite de horário até para levar o lixo na rua, graças ao trabalho escravo que ela faz para nos arranjar fonte de renda, eu ainda posso fugir desse cárcere que ela me pôs.
  O pessoal da escola conta diversas histórias sobre o matagal, dão várias teorias a respeito do sumiço das crianças. Nem penso em contar a minha mãe... Quero continuar saindo, e não, virar parte dos móveis de tão em casa que ficaria se ela me proibisse de vez de sair.
  Hoje conheci um de meus vizinhos, a filha dele tem um cãozinho de aproximadamente 80 centímetros de altura (É... Ele não é bem um cãozinho). Sempre que abro a janela vejo aquele bichano me encarando, ele me assusta. Seus olhos parecem atentos a qualquer movimento dado por mim, me segue com seus grandes olhos de cor castanho avermelhado e parece não ir muito com minha cara. Digo isso porque toda vez que me aproximo dele para tentar acariciar seus pêlos cinzentos ele rosna descontroladamente parecendo me ameaçar de uma breve e dolorida mordida.  Apesar de bravo, ele chora a noite toda, parecendo pedir algo aos donos... Talvez seja para entrar, ou ser solto das correntes. Quando o sr. Wilkens passeia com ele pela rua, atiça todos os demais cachorros, mas com a aproximação dele, todos eles recuam, parecendo chorar de medo. Eu os entendo... Aquele cachorro parece uma obra de Satã de tão horrível que é!
  Essa noite ele não chorou, pelo contrário, ele uivou. Teve uma hora que me irritei e me obriguei a abrir a janela para mandá-lo calar a boca... Mais uma criança foi dada como desaparecida assim que amanheceu hoje. Mas que droga! Já não basta minha mãe me proibir de sair para respirar nem que seja na esquina, agora ela me deu a ordem de fazer a mesma rotina todo dia: casa e escola, escola e casa. Eu até estava disposto a obedecer o novo código de segurança da minha patroa, mas um imprevisto mudou a realização da regra n°1237,22 "da aula para casa" que minha mãe havia criado.
  Quando estava na escola recebi a notícia de que mais uma jovem havia desaparecido na pequena floresta a qual todos temiam. Parece que ela estava voltando para casa após uma longa noite de bebidas e farra, e decidiu entrar na mata. Como o esperado, isso só fortaleceu os rumores pela escola sobre o que acontecia com quem sumia na floresta...
  No fim da aula, ouvi a conversa de dois meninos e uma garota de que planejavam sair à noite para procurar pelos desaparecidos pela vasta e escura mata. Fiquei com aquilo na cabeça o dia inteiro, estava esbanjando curiosidade sobre o que aconteceria com os três ou o que eles encontrariam lá ao invadir àquele lugar macabro durante a noite. Não me contive de ansiedade e acabei por fugir do "castigo" assim que vi minha mãe ir dormir. Me direcionei ao local onde eles haviam combinado de se encontrar um pouco antes do horário em que apareceriam para ir até a aventura perigosa que os três fariam. Sim, eu ouvi toda a conversa!
  Eles chegaram todos antes de bater o horário combinado, e quando deram as costas, saí do meu esconderijo e os segui à distância. Quando adentramos a mata, pensei ter visto o cachorro da minha vizinha correr entre as árvores... Imaginei estar vendo coisas, então continuei seguindo as sombras dos três estudantes. Eu estava com medo, mas isso não havia sido o suficiente para me manter em casa. As histórias recontadas pelo pessoal da escola estavam martelando em minha cabeça, até que em um descuido, me perdi dos três curiosos.
  Caminhando rápido, imaginando ainda poder alcançá-los, tropecei em algo e torci meu tornozelo, assim caindo no chão. Ao olhar através da luz do luar no que havia pisado, me assustei e acabei por perceber que talvez as histórias contadas pelo pessoal da escola não passassem da mais pura verdade. E se isso fosse certo, teria sido uma péssima ideia eu ter adentrado a floresta àquela noite... Pois a maioria dos rumores, apontavam lobisomens e, o que mais me deixou em pânico é o fato de que: estávamos em lua cheia.
  Eu havia pisado em um osso, um fêmur, que pelo tamanho e largura, pertencia a uma criança. Saí correndo mata adentro sem sequer olhar para trás, até que cheguei a um lugar da floresta coberto de pele e ossos por toda a parte , que junto a sangue e pedaços humanos parecia enfeitar as árvores a minha volta. Foi quando ouvi rosnados, e a primeira coisa que veio a minha cabeça, foi haver um lobisomem bem atrás de mim... Ao me virar, vi que estava errado, pois a única coisa que haviam atrás de mim, era o cachorro da minha vizinha, me olhando de orelhas em pé, parecendo captar algum som. Até que ele saiu correndo e larguei em disparada logo atrás dele, quando o vi parar, avistei outros cães e uma porção de pedaços humanos, que tudo indicava que fossem dos desaparecidos.
 Acabei por ser surpreendido, pois ao olhar diretamente aos cachorros, os vi se transformarem diante dos meus olhos nos três jovens aos quais eu havia seguido. Aos quais em um movimento imediato levaram o indicador a boca e fizeram: _Shhhhhh...
  Corri o quanto pude e, devido a meu conhecimento sobre lendas, acabei por me tocar de que não se tratavam de lobisomens, e sim, de Skin Walkers... E o cachorro de minha vizinha? Me seguiu até em casa e deitou na cama da minha mãe, que não foi ao trabalho no dia seguinte e curioso não? O cachorro da minha vizinha havia sumido...


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