Meu Novo Mundo

Foi no verão de 57... No verão de 1957 descobri os segredos da alquimia.
  Foi por causa da minha esposa, que em seu leito de morte esperava por um transplante de coração. Eu esperei por cinco dias, mas nem notícias de alguém que estivesse disposto a salvar a vida de minha amada mulher. Ver o som da máquina que controlava a quantidade de seus batimentos sem dúvidas, foi o motivo pelo qual me obriguei a tomar alguma atitude. Me levantei da cadeira que até então se encontrava ao seu lado e me retirei da sala batendo a porta com tremendo ódio e coberto de lágrimas de meu até então recente mais profundo desespero. O que fiz ao cair da noite daquele abominante dia sem dúvidas estava destinado a manchar meu caráter até os últimos minutos de minha longa e miserável vida.
  Foi aos 29 anos, aos 29 anos fiz meu primeiro cadáver. Ao sair do hospital fui bombardeado por um sentimento de falta que o estado de minha mulher me causara a respeito dela. Movido pela compaixão e desinteresse em procurar uma outra simples solução, me dirigi a um parque próximo ao hospital, onde se encontrava uma criança a brincar na pracinha completamente sozinha e não parecendo ligar para isso. Aquela cena realmente me deu inspiração para que eu realizasse o que estive perto de fazer, e fiz. Vi naquela garotinha de cabelos escuros e pele clara,  a salvação para a vida de minha amada esposa. Sem sequer repensar a ideia de que aquilo pudesse vir a não ser ético, e realmente, agora sei que não era, me dirigi àquela inocente criança e a nocauteei. Assim que desacordada a pus no carro e a levei diretamente para o cubículo onde eu morava. Fiz o mesmo com minha esposa, a tirando do hospital e a levando para o mesmo lugar que a garotinha, para minha casa.
  Eu era cirurgião antes de ter que me aposentar às pressas devido a um problema na coluna, então retirei o coração daquela jovem criança e por meio dos mais cuidadosos métodos cirúrgicos, acabei com sua vida para recolocar em Bárbara(minha esposa) o último vestígio que pudesse fazer com que seu coração voltasse a bater. Coloquei um novo coração em meu amor, e infelizmente me decepcionei com o resultado. Nada, nada aconteceu, incrivelmente nada fez com que minha esposa despertasse após aquela maldita cirurgia. Ela não estava morta, estava em coma, e assim ficou durante anos e anos, nos quais me dediquei a pesquisar formas de despertá-la de tal sono profundo. Assim fui envelhecendo e, temendo à ideia de perdê-la antes de mim, fui repondo seus órgãos sempre que apresentavam defeito s de funcionamento. Eu os retirava de jovens adultos que por azar, atravessavam meu caminho e, por azar de novo, acabavam perdendo alguma parte importante de seu corpo. Eu fazia o mesmo comigo, trocando sempre um rim, quando aparentava risco de parar de funcionar, ou uma mísera pálpebra quando não se controlava mais por ter que segurar a poeira do meu sujo casarão que não via limpeza a anos.
  Foi assim por anos, até que cansado de viver só e finalmente conformado com a morte de minha amada, pus minha mão ao seu lado e me sentei em uma cadeira. Assim fincando em meu saudável coração, a mesma faca na qual havia feito milhares de pessoas infelizes com o passar dos anos.
  - Eu te amo Bárbara... - cochichei enquanto minha vista embaçava e eu mergulhava no mais profundo abismo da incerteza e solidão.
  - Eu também te amo Alex...

By: natyh


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