O Sangue é a Fonte ~ Parte Um


  Morte. É o que minha vida se tornou. Apenas morte, é tudo o que tenho a minha volta agora, e de forma confusa, ela é o que me mantém vivo. Ou melhor, pareço estar.
  Tudo começou por culpa do meu irmão gêmeo, sempre encrenqueiro e metido a valente, ele a vida toda foi de provocar quem não conhecia.
  Desde nossos 16 anos fomos de sair para baladas a fim de nos divertir, e em todos esses passeios noturnos ele provocava alguém, sempre arranjava confusão e nunca aprendia a lição. Se metia em brigas e mechia com a mulher dos outros, mas querendo ou não, tenho que assumir que sair com ele era uma excelente diversão apesar das encrencas que ele me metia.
  Estávamos com 20 anos e  ele era meu irmão favorito, talvez porque fosse o único. Eu fazia tudo por ele, sempre o defendia das brigas que arranjava para si mesmo e quebrava a cara de quem quer que fosse para vê-lo em segurança, morávamos juntos desde a morte de nossos pais, éramos a companhia um do outro.
  Mas houve uma noite em que me perdi dele dentro da balada, o lugar estava muito cheio, e quando finalmente o avistei, ele estava de saída, discutindo com um cara um tanto amedrontador. O sujeito era um homem forte, de cavanhaque, careca, com uma expressão que lembrava muito campeões de luta livre. Ele vestia uma jaqueta de couro aberta que deixava seu peito musculoso a mostra, coberto de correntes penduradas nas calças jeans, ele me assustava muito.
  De cara vi que não tinha chance alguma de sair vivo se entrasse em uma briga com aquele brutamontes, então resolvi apenas segui-lo e ver se sua intenção ao seguir meu irmão até o beco ao lado era amassar sua cara ou ir em bora daquele lugar.
  Realmente ele seguiu meu irmão, mas para a sorte de Ed(meu irmão babaca) eu estava por perto. Só que infelizmente não corri a tempo, quando ele deu um soco certeiro no nariz de Ed, o fez cair imediatamente ao chão. Foi quando o sujeito se pôs em cima dele e fez algo estranho, ele mordeu o pescoço de Ed, se não fosse minha chegada, acredito eu que Ed teria morrido, mas na hora apostei em estupro.
  O maluco correu desesperadamente quando me viu, e como eu ainda não havia entendido nada a única coisa que disse foi:

  _ Isso, corre sua bichona!
  _ Espero que esteja satisfeito com o chupão seu emboiolado!
  _ Por quê não pega o número dele seu Bambi?!

  Fomos para casa, Ed estava sangrando, o ferimento estava feio, mas ele não quis ir ao hospital. Assim que chegamos em casa dei muitas broncas em meu irmão, ele me xingou dizendo que eu deveria ter batido no agressor, mas não dei bola para sua opinião egoísta.
  Apartir daquele dia Ed não foi mais o mesmo, ele rejeitava comida, saia bastante sozinho, não queria mais minha companhia e sempre que o via cozinhar, apesar de não comer a refeição, ele se lambusava com a carne ainda crua toda a vez que cortava. Ed estava estranho, bebia de forma frequente, me evitava, mas sempre que tinha contato comigo parecia querer me devorar, seu olhar estava intimidador, aquilo me assustava.
  Foi assim até o dia em que o segui em um de seus passeios noturnos, eu não saia mais para a balada, mas ele saia toda a noite e nunca dizia onde ia. Isso me deixou curioso então banquei o detetive e o segui naquela noite. Ele entrou naquela mesma balada, a mesma em que havia sido agredido pelo homem.
  Para minha surpresa, ele foi ao encontro de um grupo de amigos em frente a entrada da boate, para uma surpresa maior ainda, entre eles estava o agressor. Ed os cumprimentou, conversaram um pouco, até que meu irmão apontou para mim, que estava escondido atrás de um carro observando suas atitudes. Não demorou muito e um cara me surpreendeu pelas costas e me levou ao encontro de meu irmão.
  Ele me pôs no carro de um de seus amigos e me levaram para uma casa antiga, é claro, amarrado. Não sei o que me deram para dormir, mas quando acordei estava amarrado em uma cadeira com todos sentados a minha volta, me olhando. Ao todo eram quatro, um cara de casaco azul e aparência amigável(aparência); um de cabelo comprido preto, magrelo e de aparência marginal; o brutamontes careca e meu irmão.

  _ Acha mesmo que não te vi me seguir, Erick? Você parece um elefante pisando! -disse meu irmão.

  Todos deram uma risada falsa, e quando tentei falar algo, vi que estava amordaçado.

  _ Sabe o porquê está aqui maninho? -me perguntou de forma sutil.

  Balancei a cabeça negativamente e ele se aproximou de mim e cochichou em meu ouvido:

  _ Preciso do seu sangue...

  Aquilo sem dúvidas foi sinistro, assustador. Ed estava diferente, e só ali que percebi o que estava acontecendo. O sangue... A mordida no pescoço... Eu estava diante de uma lenda. Aquilo não podia ser possível, mas parecia tão real, tão certo... Respirei fundo para digerir a ideia, vampiros? Fala sério, ninguém acreditaria de primeiro, ninguém como eu.
  Minha descrença me custou caro, Ed me atacou, me mordeu, me deixou quase morto, como ele pensou que eu estava.
  Depois que teve o que queria ele foi em bora, ele sempre foi um covarde, mas não imaginava que a ponto disso. Digerir aquilo foi dolorido para mim, mas eu me vinguei. Como imaginava que eu estivesse morto, ele me enterrou. Não contava que meu coração fosse voltar a bater, havia se esquecido que havia me mordido, me pôs debaixo de quilos de terra, me abandonou em um cemitério qualquer. Aquilo tudo por causa do meu sangue, aquilo tudo para que ficasse mais forte.
  Jurei me vingar assim que abri meus olhos, eu estava vivo, apesar de não saber como. Fraco e decepcionado eu ultrapassei aquela terra pesada, nem em um caixão ele havia me colocado, apenas uma pequena cruz de madeira com meu nome escrito indicava onde residia meu corpo. Na verdade, não residia mais.
  Recuperei minhas forças devorando quem aparecesse no meu caminho, então é assim que funcionava, o sangue dos outros me mantia vivo, o sangue era fonte.
  Observei a rotina de Ed por alguns dias, suas roupas, sua maneira de arranjar presas, ele havia se tornado um monstro, e eu não era muito diferente dele. Ele toda noite ia àquela balada, tinha um padrão de o que fazer com seu alimento(as pessoas de quem drenava o sangue). Foi difícil o pegar sozinho, estava sempre acompanhado daqueles dois... Mas eu consegui, o ataquei sem que ninguém visse.
  Eu havia estudado muito sobre vampiros, então o levei para casa e o amarrei no porão, o mantive la por muito tempo, sem comida, sem nada. Apenas com doses de sangue de pessoas mortas que funcionavam como veneno para nós. Vi Ed ficar sem forças, vi Ed adoecer, não me importei com o fato de sermos irmãos, se ele não se importara, porquê eu me importaria?
  Quando eu percebi que estava cruel demais, decidi piorar. Eu queria vê-lo sangrar, ele havia me enterrado vivo, aquilo era imperdoável para mim, então peguei uma faca afiada e cortei seus dedos, um a um. Abri seu peito como em uma autópsia, e ele não morreu... Que mostro havia se tornado? O mesmo que eu.
  Percebi que eu estava ficando louco, estava sedento pela morte de meu irmão, então finalmente o decapitei. Vi a cabeça de Ed rolar ao chão, vi seus olhos sem qualquer resquício de vida encarando o nada, vi sangue jorrar de seu pescoço e manchar sua roupa, vi uma poça se formar no chão. Mas minha pior visão não era nada disso, minha pior visão era o que eu havia me tornado.

By: natyh
Obs: perdão as palavras homofóbicas, fazem parte do personagem.


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