Depois do que fiz o ódio que eu sentia pela minha própria raça se tornou ainda maior. No pouco tempo que ficamos juntos, Kylie havia feito eu me sentir vivo de novo, me sentir humano outra vez, e o que ela recebeu em troca por ter feito o bem que me fez? Sua morte. Foi devorada por mim. Se eu não soubesse que o que fiz veio do meu instinto e não do meu coração, ainda me sentiria culpado pela morte dela. Mesmo sabendo que de certa forma sou, por não ter a contado sobre quem eu era, não tê-la alertado o perigo que corria estando comigo. É, eu poderia ter evitado.
E foi em nome dela que eu voltei ao meu plano de vingança, em nome dela que aceitei o que eu era. Eu era um vampiro, eu era Eric Kennedy, e agora o considerável problema de Harry e Martin. Eles pagariam por ter atravessado meu caminho outra vez, eu mal podia esperar por nosso confronto final.
Naquela mesma semana fui até onde a gangue se escondia, mas a única coisa que encontrei foi poeira e um vazio. Eles haviam ido em bora. Talvez após a morte de Dênis tenham decidido se mudar, ou talvez estivessem com medo de um vampiro vingativo que mais parecia um ghoul quando estava com muita fome. Mas pensei ser ridícula a segunda opção, afinal, porquê um brutamontes musculoso teria medo de um magrelo como eu? O menor eu até entenderia, mas o grandão de dentes afiados com certeza não me acharia pário para ele. Então apostei no primeiro palpite.
Encontrar eles foi um grande desafio para mim, por mais que procurasse não via nem sinal de nenhum dos dois. Até que, o destino fez o seu trabalho e cruzou os nossos caminhos, parece que o tempo estava a meu favor.
Aconteceu de maneira bastante aleatória o encontro entre nós três, era um sábado, eu havia saído para dar uma volta, comprar algumas coisinhas e tentar ser humano um pouco, já que encontrá-los estava sendo bastante complicado e mesmo sendo um vampiro eu ainda tinha necessidade de comprar roupas, eu havia ido dar uma volta no centro da cidade com a intenção de fazer isso.
O calçadão estava bastante movimentado como de costume, humanos indo e vindo, pessoas por toda a parte, comida por toda a parte. Era tão fascinante andar em público sendo um vampiro... Ninguém sequer ter ideia do que eu era, ninguém sequer imaginar que eu poderia ouvir os batimentos de seu coração, ninguém fazer ideia de que bastasse eu querer, que a morte viria cedo para si... Mas apesar de essas habilidades serem extraordinárias, elas desconcentravam bastante às vezes. Ouvir tantos batimentos as vezes era excitante a ponto de eu querer saltar em seus pescoços querendo saciar logo aquela sede insaciável.
Mas, voltando a como nos encontramos, ocorreu da seguinte maneira: eu senti o cheiro dos dois. E, provavelmente, eles também sentiram o meu, mas correram. É, talvez àquela segunda opção estivesse mesmo correta, eu havia os deixado assustados, me tornara abominável para eles. E, como eu não poderia deixá-los escapar, eu corri. Corri atrás dos dois, passando entre pessoas e mais pessoas, empurrando quem cruzasse meu caminho sem dó nem piedade, a fim de não perdê-los de vista de forma alguma. Mas durante tanta correria, eu acabei parando. Não por cansaço nem nada, mas porque senti algo que me assustou profundamente, me deixou com ódio de mim mesmo, mas meus instintos me contrariavam.
Senti um cheiro maravilhoso de sangue, um odor atraente, e ele vinha da multidão. Mas quando cheguei mais perto pude ver qual era sua origem, ele vinha de uma garotinha, uma pequena e inocente garotinha. Eu já havia desviado o caminho de perseguir Harry e Martin, então, por ora não me preocupava mais com a vingança, apenas com minha fome.
Mesmo não querendo fazer aquilo, mesmo sabendo que era errado, o monstro que havia dentro de mim estava me dominando, o vírus estava me fazendo me aproximar cada vez mais da menina. Eu tentava evitar, tentava recusar meu corpo e obedecer minha mente mas eu já estava a poucos passos dela, estava quase a tocando, tocando a destraida criança à qual tinha o sangue totalmente atraente para mim, lembrava o de Kylie.
Mas quando eu estava a centímetros dela, Martin(o maldito brutamontes) pôs a mão em meu ombro por trás e disse:
_ Isso é monstruoso até para mim, Eric.
O olhei imediatamente e respirei fundo, controlando minhas presas que estavam quase saindo para fora, ficando assim à mostra. E isso de fato, poderia me ferrar.
Após isso eu fiquei confuso no que fazer, o matar ou o agradecer por ter me salvo de machucar mais uma inocente, uma pequena criança.
Antes que eu pudesse ter qualquer reação eu olhei para o lado e vi a mãe da menina a abraçando, olhei para o outro e vi um casal de mãos dadas em um momento romântico, mas, ao olhar para a frente vi tudo ficar preto. Martin me nocauteou. Ali mesmo, no meio da multidão ele me deu um soco que me deixou inconsciente por horas... Tempo o suficiente para me levarem para seu novo esconderijo e me amarrarem a uma cadeira. Algo que me trazia uma nostalgia extremamente preocupante.
Quando abri meus olhos vi os dois à minha frente, então olhando ao redor percebi que não era o único amarrado.
Na mesma sala haviam duas garotas de aparentemente 18, 19 anos acorrentadas à duas colunas de madeira. O lugar parecia um sótão, todo trabalhado em madeira, com uma luz fraca ao teto e apenas minha cadeira preenchendo o vazio do cômodo. Antes que eu pudesse me questionar do que aconteceria depois Harry percebeu que eu acordara e começou a falar:
_ Ora, ora, ora... Parece que nosso zumbi indomável acordou, veja Martin!
Martin então apareceu, se agaixou próximo a mim e se pôs a falar:
_ Mas que merda foi aquela cara? Você ia matar uma criança, isso é desprezível até pra mim! Que droga cara!
Eu permaneci de cabeça baixa, mas Harry chamou meu nome:
_ Eric...
Levantei mais o olhar do que a cabeça e escutei o que ele tinha para me falar.
_ Sabe... Depois de vermos que você estava tentando levar uma vida normal com aquele seu lanchinho daquele dia...
Levantei minha cabeça com um olhar um tanto raivoso, Kylie não era meu lanchinho, como ele ousava falar assim dela, se não fosse pelos dois ela ainda estaria viva, e eu não me sentiria mal por tê-la devorado, aquilo jamais teria acontecido.
Mas o deixei continuar sem interromper, minha mãe sempre me dissera quando criança que um olhar é capaz de substituir inúmeras palavras. E realmente, quando ela me olhava com o mesmo olhar que eu havia acabado de fazer para Harry, eu já sabia que havia aprontado e que sua vontade era de socar minha cara. Então fiquei somente nos meus pensamentos e ouvi o que ele tinha a dizer.
_ Paramos para refletir que não se é impossível ter uma mulher ao seu lado você sendo um vampiro. E este é o motivo pelo qual aquelas duas estão ali! - disse apontando com um cutelo para as duas moças acorrentadas ao meu lado.
_ Vocês são doentios! - falei enojado (como se eu também não fosse).
_ Eric, não fale assim, você vai assustar estas belas damas... - disse enquanto ia em direção às duas.
_ Esta é Kerolin... - falou levantando o queixo de uma delas com o cutelo.
Ela era loura, tinha lindos cabelos ondulados até os ombros, usava um vestido de sair à noite da cor preta e um salto alto da mesma cor, provavelmente estava frequentando alguma balada quando foi capturada. Então ele se virou para a outra e votou a falar:
_ E esta é Natasha! Lindas não? Eu pretendo ficar com Kerolin... - falou acariciando o rosto de Natasha e esperando eu dizer algo.
Mas eu não disse. Pelo contrário, apenas olhei para Natasha e analisei sua fisionomia. Ela era de fato muito linda...
De cabelo preto amarrado em coque com fios caidos à frente de suas orelhas , ela era magra, de aparência rockeira, vestia uma saia preta colada, uma mini blusa preta com vermelho, e um salto alto também da cor preta, a garota era um tanto encantadora, apesar de vestida com uma prostituta.
Natasha tentou responder a Harry, mas assim como a loura ela também estava amordaçada, então apenas se sacodiu querendo que Harry tirasse as mãos de seu rosto.
_ Hey, você tem que se acostumar comigo, vocês duas vão conviver bastante com a gente daqui pra frente!
Eu estava tentando soltar a corda enquanto ele falava, ela estava um pouco frouxa e com um pouco de esforço eu conseguiria. Natasha passou a se sacudir mais então olhei na direção deles e ele estava a mordendo, assim que terminou ele me olhou e viu que eu estava bem sério.
_ Que foi? Até parece que você nunca fez isso... Ela deveria me agradecer, vício em sangue nem se compara a vício em cocaína, não é Natasha?
Foi aí que eu a reconheci. Ela era uma daquelas drogadas da entrada da boate que eles frequentavam. E realmente, ele estava certo... Se não a transmutasse a morte viria mais cedo para ela.
Logo eu consegui me soltar, então corri até ele e ataquei seu pescoço, o estraçalhando até vê-lo morto ao chão. Soltei as garotas mas Natasha parecia não ter resistido. Martin já não estava mais na sala, então saí a sua procura subindo as escadas que davam para a saída do sótão. O cômodo de cima se tratava de uma sala de estar, nele avistei uma mesinha e em cima dela se encontrava um facão. Ouvi um barulho de passos vindos de algum lugar da casa, parecia do cômodo ao lado, então apanhei a faca e me pus ao lado da porta, esperando que Martin passasse. Assim que ele passou o esfaqueei pelas costas, ele se levantou e reagiu me dando um soco no rosto que me fez tontear. Mas não apaguei.
O ataquei de novo e fiquei a faca em seu peito a fazendo atravessar até suas costas, a retirei e ele ajoelhou-se no chão com a mão em seu peito tentando impedir a saída de tanto sangue. Ele já estava fraco então eu finalmente pude decapitá-lo e dar fim à minha completa vingança.
Sua cabeça deslizou de seu corpo e eu me retirei rumo a parte final da minha missão: suicídio.
Fui até o mesmo túmulo ao qual Ed havia me enterrado antes de tudo começar e pus a faca em meu pescoço, deslizando-a em posição horizontal enquanto me imaginava abraçando Kylie novamente. Meu corpo assim caiu no mesmo buraco ao qual ele jamais deveria ter saído. Mas agora era definitivo, agora eu finalmente me veria em paz. Agora eu finalmente estava morto.
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