O Bolo - Caso Quatro


  Marcos se sentia outra pessoa. Era como se de uma hora para outra ele tivesse virado alguém que sempre quis ser... O bolo o encorajara a fazer algo horrendo mas, apesar da gravidade e falta de ética em ter feito aquilo, ele sentia como se sempre tivesse desejado ser um criminoso.
  Agora ele tinha certeza de que o causador daquelas mortes em sua cidade, realmente, era um aparentemente "inofensivo" alimento. Mas ele ainda não sabia quem estava vendendo aquilo, e por sorte, ainda não havia sido morto pelo bolo. Pelo contrário, sentia que precisava de mais... Necessitava ingerir novamente aquela droga lícita que o deixava corajoso por um determinado tempo. Ou seria ela ilícita? Causara a morte de três pessoas em menos de uma semana, isso de fato, era perigoso para a sociedade.
  Logo depois do almoço o bolo finalizou seu efeito e, com isso, Marcos imediatamente passou a questionar a ética no que fez. E esse foi o motivo pelo qual mais tarde ele sentiu-se abstinente, sentiu que necessitava comprar mais nem que fosse uma fatia daquela saborosa "droga"... Pediu que sua mãe lhe dissesse quem a vendera e, por sorte, ela além de lhe contar, disse onde ele poderia encontrar a mulher que fabricava aquele seu novo vício e como ela se chamava. Seu nome era Ursulla.
  Não foi difícil ele encontrar a sujeita, e quando ele o fez, foi fácil identificá-la, estava segurando uma sacolinha de bolos enquanto voltava para sua casa. Os dois tiveram uma conversa que muitos veriam como insensata, mas eles não:

  — Olá, você é a srta. Ursulla?

  — Sim, sou eu. - respondeu ela, um pouco surpresa, não costumava dizer seu nome para ninguém. Tê-lo mencionado em uma conversa com a mãe do garoto não havia sido proposital, estava ansiosa aquele dia.

  — Eu vim para falar do bolo, eu sei o que ele é o causador daquelas mortes.

  A moça puxou o garoto pelo braço, para um canto mais escuro da rua - a entrada de um beco - e um pouco estressada, o respondeu:

  — Está ficando louco? Aquela história de bolo a garota inventou, se você ficar concordando com ela por ai vai acabar no mesmo lugar que ela.

  — Você sabe que eu não inventei, eu comi um de seus "bolinhos mágicos" e algo aconteceu comigo. Me fala! O que tinha naquele bolo?

  — Do que você está falando garoto? Eu só vendi o meu experimento para duas mulheres e aquela garota, não me lembro de ter vendido nenhum para você.

  — Acontece que uma daquelas mulheres é minha mãe, e ela não comeu, havia comprado para mim. E como assim experimentos? O que tinha naquele bolo?

  — Oh, meu Deus... - a vendedora foi virando as costas e saindo, Marcos a seguiu, ela ainda não havia revelado o segredo daquela fatalidade.

  — Ei, volta aqui! Por favor, me conta!

  — Vem cá rapaz, me segue. - disse Ursulla, o levando para sua casa, onde poderiam conversar melhor, e com mais privacidade.

  Chegando lá ela sentou-se na mesa e convidou Marcos a fazer o mesmo, seria melhor se ele ouvisse sentado o que ela tinha para lhe contar, e seria melhor ainda se ele não fosse cético, mas parte dela torcia para que ele fosse.

  — É o seguinte: eu sou uma bruxa... E, o que tinha naqueles bolos era algo que eu estava testando, algo novo, eu mesma havia criado... — ela fez uma pequena pausa, ele ainda não havia falado nada, e isso para ela não era nada normal — O ingrediente que causa isso, obviamente, é uma poção. Ela desperta algo dentro de seus consumidores, os encoraja fazer o que sempre tiveram vontade mas não ousavam tentar... Trás a tona os seus desejos mais obscuros e sombrios e, impulsiona o usuário a os realizar, custe o que custar, seja o que for.

  O garoto finalmente quebra o silêncio que adotara e surpreende a Ursulla:

  — Eu quero encomendar um bolo de 5kg de você, faz encomenda?

  A mulher fica pasma, achara que a reação do garoto fosse rir ou algo assim, mas, ele estava adotando totalmente a ideia. Aquilo era anormal para ela, até porque se não fosse ele que tivesse comido o bolo, talvez sua mãe estivesse morta ou presa, duas situações nada agradáveis.

  — Como assim? Você quer comprar mais? - disse ela, um tanto surpresa.

  — Sim, meu aniversário é essa semana, convidei alguns amigos e, dessa vez quero ser eu quem vai fazer a surpresa da festa... Também me vende uma fatia separada, quero para agora!


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