O Bolo - Final


  Quando saiu da casa de Ursulla naquele dia, Marcos já estava novamente sobre efeito do bolo, comera a fatia lá mesmo, na casa da "confeiteira". Acho que posso chamá-la assim, fabricante soaria estranho, apesar de aquele bolo ser praticamente uma droga.
  Apesar do efeito do feitiço, o garoto não matara ninguém naquela tarde de sábado... Ele somente voltou para casa, retirou um dos potes - que continha partes do corpo do sujeito morto na noite anterior - do freezer, cozinhou, e se deliciou com a carne humana mais uma vez.
  O estoque durou algum tempo, o suficiente para que não fosse necessário ferir mais ninguém, durou até o dia do seu aniversário. O dia em que, sem dúvidas, muito sangue iria rolar...

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  Aniversário
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  Quando o dia da festa chegou, Marcos foi até a casa de Ursulla buscar o bolo encomendado. Ele não via a hora de comer novamente aquela droga doce, de efeito incomum, tão desigual de qualquer outra... Quando levou para casa lutou contra sua vontade de devorar tudo antes dos convidados chegarem, mas conseguiu se conter, e seu plano até que correu bem.
  A festa era um pouco fechada, somente sua mãe, seu tio James, sua tia Lorraine, a prima Claire e alguns amigos, dentre eles: Phillip, Sarah, Jill e Tyler. Apenas uma comemoração de sua independência, sua maioridade.
  Na hora do parabéns estavam todos contentes, sorriam e parabenizavam o rapaz, mal sabiam que estavam à espera do bolo que mudaria suas vidas, senão acabasse com elas.
  A primeira fatia foi dada a sua mãe, portanto, ela foi a primeira a estar sobre efeito do bolo enfeitiçado. Sua reação foi diferente, e um tanto depravada... Ela sentou-se ao colo de James, esposo de sua irmã, e ofereceu-se para ele, rebolando, o beijando, na tentativa de o seduzir. Ele até poderia ter dado bola, se o bolo não fizesse efeito nele logo depois.
  James apenas encurvou-se à mesa do parabéns, pegou a faca que haviam usado para cortar o bolo e, de maneira calma e psicótica, a deslizou pela garganta da cunhada, antes que além de seduzi-lo, ela tentasse brincar de sadomasoquimo.
  Por outro lado, a reação que o bolo causara em Lorraine, tia de Marcos, se fez um pouco comum... Ela tomou a faca do marido e com a mesma o atingiu no peito, bem na área do coração, fazendo o mesmo consigo logo em seguida, antes que tentasse fazer com a filha.
  Claire, a filha do casal, reagiu à morte dos pais de maneira estranha, na verdade assustadora, total efeito do bolo. Ela empunhou um copo descartável e correu em direção a família, apertando ainda mais a faca na mãe e servindo-se de seu sangue para beber. Quanto mais escorria mais ela tomava, parecia não se saciar daquela sede hematófaga nunca, um ato com toda certeza, vampiresco.
  Enquanto a garota se satisfazia com o sangue dos pais, Marcos assistia Sarah e Tyler morderem um ao outro. Mas não uma mordida fraca e inofensiva, algo mais canibal que o próprio ato que ele cometera uma semana antes... Eles se machucavam de verdade, fincavam os dentes e puxavam a carne um do outro, parecendo dois ghouls famintos após um inverno rigoroso, duas almas tomadas pela feitiçaria de Ursulla.
  Já o rapaz Phillip, cortava partes do próprio corpo enquanto aquilo acontecia, perfurava a própria pele com um estilete e arrancava pedaços de si mesmo com tanta concentração que nem percebia o que acontecia a sua volta.
  Jll, por sua vez, correu em direção a rua movimentada e se fez atropelada por um caminhão que passava na estrada. Dos convidados da festa ela era a que tinha a vida mais sofrida, e esse foi o motivo do suicídio, esse foi o motivo de seu corpo atirado ao chão, o motivo de suas vísceras expostas para fora e de sua cabeça sangrando até a morte.
  Já Marcos, que havia sido o último a servir-se do bolo "envenenado", assistiu a tudo até o último segundo, esperando pelo efeito que imaginava que o doce iria lhe causar. Mas mal sabia ele que não era bem assim que funcionava, o efeito do bolo dependia do que você sente, bem lá no fundo, no fundo de sua alma. Seja pequeno, ou grande, dependia daquele desejo que você escondia de todos, e as vezes, até de si mesmo.
  E seu desejo, naquele momento, era da morte, de sua morte. Ele viu a todos que conhecia, que estavam ao seu lado ele gostasse ou não, morrerem. Ele viu o que ele mesmo fizera, e no fundo, bem lá no fundo, parte dele se arrependeu.
  Fincou a faca em seu peito, seu coração parou, e lá estava ela, lá estava Ursulla, para dizer aquilo que ele ouvira antes mesmo de servir os convidados de sua festa:

❝ Parabéns para você, Marcos! ❞



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