Solidão Obscura

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Hello, psicos!
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Cá estou trazendo mais um conto para vocês, porém, este escrito por minha irmã 一Natieli Machado 一 espero que gostem, e uma boa leitura! 

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  Pelo tilintar das gotas contra as paredes e o teto, a chuva deve estar intensa lá fora. É que já faz alguns dias que chove incenssantemente, pelo visto já acabou o verão.
  O barulho das pequenas gotas de chuva me fazem bem, melhoram meu estado de espírito, me deixam mais calma principalmente à noite e, dormir ao leve som da chuva me esqueço dos problemas que a minha conturbada vida adolescente me trouxe nesses últimos dias, ou semanas...
  Estou à tanto tempo aqui, sozinha, com fome e sede somente com meus pensamentos depressivos que até já perdi a conta de quanto tempo faz que estou aqui, talvez duas semanas ou mais.
  Sinto que cada dia a mais que passa tenho menos chance de sobreviver à minha miserável vida. Talvez eu não estivesse aqui sozinha e trancafiada neste cômodo fétido e úmido se eu não tivesse ido embora de casa sendo rebelde para fazer o que queria. Talvez se eu não insistisse em sonhos falhos que meu pai e minha mãe nunca aprovaram. Se eu não tivesse ido embora... Ah... Eu jamais conheceria o mundo como ele realmente é. A decisão que me trouxe a essa profunda e obscura solidão foi um simples sonho de ser cantora. Hoje a umidade faz com que eu fique cada vez mais doente, e minha voz fique fraca e rouca.
  Agora sempre que tento me convencer de que um dia eu vou sair desse buraco onde eu me enfiei e voltar pra casa, pedir perdão aos meus pais pela minha tolisse, fico cada vez mais arrependida pela desobediência e pela falta de maturidade, e, agora entendo a preocupação deles com meu futuro e com meu bem estar, entendo eles me super protegerem para que eu não sofresse a decepção que sofro agora com minha mais nova falha, mas tenho que provar a mim mesma e aos meus pais que sou forte o suficiente para enfrentar os fantasmas das consequências de meus atos.
  Até parece que foi ontem,  eu indo embora somente com uma mochila nas costas, meus pais tristes na porta sem dizer adeus... E aquele... Aquele taxi... Se eu não tivesse subido nele... Se tivesse voltado atrás pelo menos para abraçar meus pais... Mas do que adianta tentar me arrepender agora? Suja, em depressão profunda, com pensamentos suicidas... Ah, quem dera se pudesse adiantar minha morte e acabar com meu sofrimento... Só o que sei, é que estou faz muito tempo sentada na umidade, numa imensa poça d'agua... Uma poça d'agua fétida e gosmenta, acho que é devido a falta de eu poder ir ao banheiro... De vez enquando algumas "coisas" encostam em mim por debaixo dessa... Maldita água! Sobreviver aqui está dificil... Bebo da água que pinga do teto quando chove..
  Acho que meus pais jamais teriam me dito que eu iria colher os frutos da minha rebeldia se soubessem o que ando passando depois de eu ter abandonado minha família. Não sei dizer ao certo com precisão quanto mede meu "quarto" e se eu realmente estou sozinha nele. Mas a companhia dela me faz bem. Ela é Alice, uma jovem que também tinha o sonho de ser cantora, só que gospel, eu a conheci à apenas algumas horas depois que eu senti algo, ou devo dizer alguém tentar me agarrar pelas pernas...  Talvez tenha sido algum rato, pois estou no meio de uma completa sujeira... Não sei se é por falta de me alimentar que estou vendo coisas, ou se eu estou mesmo acompanhada de alguém... Ouço um barulho vindo de fora...
  O teto começa a abrir...
  Uma fresta revela o céu nublado e uma intensa chuva...
  Cada vez mais aberto, o teto revela minha prisão...
  A escuridão tem fim...
  Percebi que o tempo todo estava em uma imensa caixa d'agua...
  Nela haviam muitos pedaços de corpos de meninas, tão jovens quanto eu...
  Mas um corpo me chamou a atenção...
  Alice... Minha amiga... Minha companhia nas últimas horas era um cadáver...
Lembro-me perfeitamente de seu rosto tão pálido quanto de uma boneca de porcelana, ali diante de mim sentada e igualmente amarrada no meio daquela maldita e fedorenta água...
  A água estava tão escura quanto o fundo de um profundo poço artesiano. Repleto de larvas...
  Lágrimas correm sobre meu rosto, tão rápidas quanto a chuva do lado de fora da minha prisão...
  Rapidamente me levanto e sou agarrada pelos cabelos por alguém muito forte... A claridade repentina nos meus olhos depois de dias na completa escuridão me cegaram, e fui nocauteada...
  Acordei limpa no meu quarto e vestindo o vestido que meu pai me deu de aniversário no ano anterior...
  Pensei de primeira ter sido um pesadelo...
  Mas a dor da pancada na minha nuca revelou o segredo...
  Ao lado da minha cama estava meu pai e o taxista...
  Fiquei confusa então eles destaram a falar...
  Meu pai disse ter colocado remédios para dormir, os mesmos que minha mãe usa, no meu café antes de eu sair, e revelou ter pedido a um tio que eu até então não conhecia, que é taxista me deixar de volta em minha casa de madrugada lá pelas 4:00 horas e então os dois me levaram pelos fundos e me puseram em uma caixa d'agua no terreno baldio dos fundos... E o motivo de ele ter feito o que fez comigo ele diz ser minha rebeldia... Mas o questionei sobre as outras meninas, e a resposta foi conjunta...
  Meu "tio" as capturava para ele e meu pai fazerem coisas... Coisas terríveis com elas...
  Meu pai sempre foi um homem carinhoso em público mas, agressor e ausente em casa. Minha mãe sempre toma medicamentos fortes para dormir e é esse momento que ele se aproveita da doçura de meninas jovens e sonhadoras como eu...
  Enquanto meu "tio" ficava parado ao lado do meu "criado-mudo" ligando e desligando meu abajur, meu pai me questionou se eu havia aprendido a lição. Eu não pensei duas vezes em responder sim, ascenando freneticamente de forma positiva com minha cabeça enquanto chorava... Eu disse também ter acreditado que iria morrer sem pedir o perdão dos meus pais por ser tão "pentelha" e inconsequente nos últimos seis anos...
  Satisfeito com minha suposta redenção, ele me deu um beijo na testa e afirmou ser tarde e que ele e meu tio se retirariam do meu quarto para que eu pudesse descansar um pouco e que, mais tarde, me traria algo para comer e beber.
  Depois de eles se retirarem do meu quarto, eu rapidamente levantei como um gato pulando para fora de uma banheira e tentei abrir as janelas do meu quarto, mas, todas estavam pregadas. Então resolvi tirar a parte superior do abajur e a lâmpada,  arrancando o fio da parede,  segurei firme o pesado metal que sustentava o objeto e abri lentamente a porta.
  Andando pelo corredor o primeiro local que fui vasculhar foi o quarto da minha mãe. E ao chegar lá, me deparei com ela deitada em cima de sua cama virada de costas para a porta, e então dando a volta na cama noto que minha mãe babava um líquido denso e muito branco. Assustada eu corri e toquei seu rosto para acordá-la, mas, ela estava tão pálida e tão gélida.
  Em sua mão estava uma embalagem plástica, então peguei e li a bula, eram comprimidos antidepressivos, e ela havia tomado todos que continham no recipiente... Me deseperei, e tentei sacudi-la, dar tapas, mas de nada adiantou, ela já tinha se ido. Sinto tanto, tanto ter deixado ela. A culpa é minha e eu sei que nunca irei me perdoar por ter abandonado minha mãe por uma birra de sonhos falhos.
  Enxuguei as lágrimas e após cobrir o corpo de minha mãe, deixei seu quarto e fui rumo à sala de estar onde estava meu pai. Indo pé por pé, com cautela,  eu cheguei bem próximo da poltrona onde ele estava sentado assistindo televisão no volume máximo de costas pra mim, e agarrando bem firme com as duas mãos o suporte do abajur, eu o golpeei ao lado da orelha direita. Sangue, muito sangue espirrou na tela da televisão, e escorrendo do seu pescoço até seu abdômen, o rubro líquido saía aos montes pelo fundo ferimento que lhe causei. A raiva tomou conta de mim e aproveitando que ele cambaleou devido ao forte golpe desferido por mim, eu subi encima dele e bati tantas, mas tantas vezes em seu crânio que o aveludado tapete laranja da sala ficou completamente cheio de miolos e sangue.
  Seu rosto ficou completamente desfigurado. Cansada, eu me deitei ao seu lado ofegante e chorando muito, estava tão distraída que não lembrava que meu "tio" ainda estava na casa, foi aí que ouvi um som de descarga e a porta do banheiro se abriu. Secando as mãos nas laterais da surrada calça jeans, meu tio soltou um grito que mais parecia o rugido de um feroz leão e correu em minha direção.
  Fui rápida ao me levantar e corri para a cozinha na tentativa de escapar pois ele era um homem muito alto e forte, mas ele me alcançou e me agarrou pelos cabelos. Com raiva ele me deu um soco no queixo, doeu muito, eu tonteei e assim ele conseguiu me agarrar pelas costas. Tentei escapar me sacudindo mas era pior, pois ele me segurava cada vez mais firme me deixando quase sem respirar. Passou a mão sobre a mesa e derrubou todos os cascos de cerveja que haviam nela, deixando inúmeros cacos de vidro no chão. Me pôs sobre a mesa de bruços e levantou... Levantou meu vestido, rasgou minha calcinha dizendo que eu iria sentir vontade de morrer igual ao meu pai.
  Mas em um instinto eu dei uma cabeçada no nariz dele e tentei escapar correndo, mas pisei em um dos cacos de cerveja que haviam no chão.
Eu cai e tentando me arrastar para a porta mais próxima, e ele com o rosto banhado de sangue me agarrou novamente, mas eu me defendi usando o caco de vidro que ainda estava preso na sola do meu pé e cravei com força no peito do pé dele, que imediatamente me soltou aos berros. Eu agarrei outro caco de vidro que encontrei no chão, mas antes que eu pudesse reagir ele veio para cima de mim falando inúmeras ofensas, mas ao me virar pra ele eu enfiei com força o objeto cortante na sua garganta, e aproveitando a situação,  para não permitir que ele me perseguisse novamente e muito menos continuasse ferindo outras meninas, eu retirei o caco de vidro e enfiei no olho esquerdo dele até ouvir um estalo e ele parar de se mexer.
  Caindo como uma fruta madura de seu pé, ele esparramou muito sangue pelo chão deixando a poça debaixo de sua cabeça cada vez maior.
  Me arrastei para a rua e fugi. Hoje vivo em outro país pra tentar superar a dor de mais uma falha.


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