Ter uma irmã gêmea não é uma tarefa fácil. Muitos podem achar que é bonito, legal e incrível ter alguém igual a você mas, nem sempre é assim... pelo menos não comigo.
As pessoas costumam imaginar que quando se tem um gêmeo é legal usar roupas iguais, substituir um ao outro para enganar as pessoas e coisas do tipo mas, é definitivamente ao contrário, você não quer ser confundido com seu irmão, você quer ser diferente. Reconhecido como você mesmo, não como alguém a quem você toda a vez que olha, sente estar olhando um espelho. E é exatamente isso, que minha família não entende, que minha família nunca entendeu.
Minha mãe minha vida toda me repreendeu por querer que eu fosse minha irmã. Digo, ela queria que além de ter a aparência, eu também agisse de forma idêntica a Nicolle, algo que eu de forma alguma desejava, apesar de sermos bem próximas.
Eu e minha irmã costumávamos ser muito amigas, eu contava tudo a ela e ela tudo a mim. Saíamos juntas, apoiávamos uma a outra no que quer que fosse... Resumidamente, tínhamos uma relação vinculada como qualquer irmão costuma ter, porém, não tínhamos os mesmos hábitos. Como por exemplo: eu gostava de ir a festas e beber, minha irmã era caseira e odiava álcool; Eu já não era mais virgem, minha irmã zelava pela virgindade até o casamento... e por assim vai.
Esse era o motivo que fazia mamãe me odiar como filha e desejar que eu fosse como sua favorita. Mas, apesar de tudo isso, eu compreendia o pensamento dela. Jamais havia sentido ódio de mamãe devido à suas exigências, pelo contrário, eu me magoava e buscava entender seus motivos mesmo que fossem os mais antiéticos e egoístas possíveis... Minha irmã não era perfeita, mas aos olhos dela, era melhor do que eu, que era como a ovelha negra da família, continha tudo o que minha mãe mais desprezava na vida. O real motivo que a fazia também me desprezar.
Papai, por outro lado, não opinava nem apitava. Não repreendia a imoralidade que mamãe cometia contra mim, nem dizia concordar com ela, apenas fazia o que sempre fez desde que me entendo por gente e posso lembrar: chegava do serviço, ignorava a família, e dormia.
Com o restante da família era tranquilo. É claro, haviam aquelas tias puxa-sacas que concordavam com mamãe me tratar mal mas, eram poucas, duas ou três talvez.
Mas houve um dia em que mamãe passou dos limites com sua implicância exagerada... Era o dia em que haveria a festa de formatura da escola, eu estava prestes a sair com minha irmã e o garoto que era meu namorado na época 一 meu último namorado, talvez também o último que eu terei na vida. E quando ele chegou para buscar nós duas para o nosso compromisso, mamãe humilhou a nós dois, dizendo que eu não era uma pessoa decente e que por isso havia me envolvido com ele, que segundo ela, também era indecente. Mas ela não parou por aí, também exaltou que sentia desprezo por mim e que era angustiada por me ter como filha, dizendo que antes ela tivesse dado a luz somente à minha irmã do que ter tido gêmeas para se lamentar todos os dias por ser mãe de uma delas.
Depois de seu desabafo e discurso de como segundo ela se comportava uma pessoa decente, 一 ela deixou bem na cara que estava descrevendo minha irmã 一 mamãe subiu as escadas de nossa antiga e bem conservada casa e se direcionou a seu quarto, onde bateu a porta com a mais pura e insensível raiva que sentia de mim não só naquele momento, mas sempre que nos encontrávamos pela casa.
Aproveitei a oportunidade e disse a Steven(meu namorado) que deveríamos sair antes que ela decidisse voltar... Nicolle me encheu de pedidos de desculpa, dizendo que não se orgulhava das palavras de mamãe e que se sentia mal por ela me tratar daquela forma.
Steven me questionou praticamente o caminho todo de como eu conseguia viver sendo tratada daquela maneira pela minha própria mãe e, como sempre, meu único argumento foi dizer tentar compreender os motivos dela. Algo que ele me disse imaginar eu ser a única que conseguia fazer.
No final da noite, fora o clima tenso que as palavras que mamãe havia dito haviam causado, a festa havia sido boa. Na volta para casa Steven nos ofereceu carona e, como já contávamos com isso, entramos no carro intencionadas a um destino que não aconteceu. Graças ao nosso motorista. Graças a Steven.
Ele havia bebido muito àquela noite, eu e Nicolle não havíamos notado isso pois havíamos passado a noite toda conversando sobre o ocorrido em casa e sobre a diferença com a qual mamãe tratava cada uma de nós. E, por culpa disso, assinamos uma sentença. Por culpa de mamãe 一 e, por parte, de Steven 一 sofremos um acidente.
No caminho para casa Steven acelerou o carro como um foragido fugindo da polícia, eu o adverti que diminuísse a velocidade mas, segundos depois 一 antes mesmo que ele pudesse pensar em fazer isso 一 Steven perdeu o controle do automóvel e o carro bateu a roda em uma grande pedra com um impulso tão forte, que capotou com o impacto. Desmaiei de imediato e, quando despertei, Steven e Nicolle ainda estavam desacordados. Minha perna havia quebrado e meu corpo estava coberto de sangue, tentei me mover mas uma dor vinda do meu joelho para baixo me impediu de me arrastar para fora do carro, a dor de um osso quebrado. Me inclinei até Steven a fim de ver se haviam batimentos, pulso, ou qualquer coisa que indicasse que ele estava mesmo desmaiado mas, não ouvi nada além da sirene da ambulância vindo com socorro, até que, desmaiei mais uma vez. Quando acordei estava no hospital, coberta de ataduras pelo corpo e com um enorme gesso na perna. Assim que abri meus olhos uma enfermeira me abordou com um papel e uma caneta na mão me questionando se eu lembrava o contato de alguém da família ou a senha do meu celular. A primeira coisa que falei antes mesmo de responder a pergunta, foi que queria saber se minha irmã e meu namorado estavam bem. A moça se negou a responder, disse que não tinha a autorização de um médico para responder qualquer pergunta feita pelos pacientes mas, eu gritei com ela... Afirmei que tinha o direito de saber a verdade e ameacei não responder nada até saber notícias dos meus entes queridos. A enfermeira ficou nervosa e rapidamente saiu para perguntar aos médicos qual seria o estado de Steven e Nicolle e se poderia compartilhar tais informações comigo. Em seguida ela voltou, me dizendo que Steven estava em coma e que Nicolle havia falecido, e eu não disse nada a ela, nada que não fosse pedir para ficar sozinha.
Não há como descrever a tristeza a qual fiquei após receber tais informações. A primeira coisa que passou na minha mente, antes mesmo da falta que Nicolle faria a mim, foi como mamãe receberia àquela notícia. Ela ficaria arrasada... me culparia, se culparia e eu imaginava haver grande chance de que, por fim, ela se mataria.
Então, depois de muito me preocupar de como o estado emocional de mamãe iria ficar, me veio uma ideia à mente, uma ideia que me fez tomar uma decisão complicada e, no mínimo, peculiar: decidi ser Nicolle. Éramos gêmeas, mamãe não perceberia o disfarce caso eu agisse como minha irmã agia. Eu só precisaria ser meiga, educada, amável... Só precisaria imitar o modo de ser de Nicolle, eu era a pessoa mais próxima dela, não seria um desafio tão dificultoso. Talvez o desafio real na verdade fosse sentir de perto a diferença de amor ao qual mamãe tratava a suas filhas. Fosse ser tratada bem, não por mamãe amar a mim, mas por pensar eu ser minha irmã, e amar mais a ela, sua 一 falecida 一 favorita.
Quando já preparada para botar meu plano em prática, esperei uma visita da enfermeira para perguntar se ela poderia me dizer se haviam pego a bolsa que estava com minha irmã no banco de trás do carro na hora do acidente. Informei que ela continha meu telefone, o da minha irmã e nossas identidades, mas a moça me contou que um dos telefones havia quebrado e que o outro estava em um bom estado. Pedi que ela me trouxesse a bolsa para que eu visse se era o meu que havia estragado e, por sorte, era. Estava tudo de acordo para que ficasse o mais convincente possível minha farsa.
Eu sabia a senha do celular de Nicolle, então desbloqueei como se fosse meu, estava com pouca bateria mas tinha o suficiente para que eu anotasse o contato de algum familiar. Então, como Nicolle e mamãe eram muito próximas, pedi que ligassem para minha mãe, era o que Nicolle com certeza faria naquela situação.
A enfermeira pegou as identidades na mão e me questionou qual das gêmeas eu era... então eu apontei para o documento da falecida e disse me chamar Nicolle. Após alguns minutos mamãe chegou ao hospital acompanhada do nosso pai. A primeira coisa que ela fez foi perguntar à enfermeira onde estava sua outra filha, é claro, não antes de ela me abraçar e beijar com um grande carinho, não antes de demonstrar seu afeto por Nicolle. Mas a enfermeira disse que chamaria o médico responsável por nós duas e, assim que ele veio anunciou a mamãe o falecimento de uma de suas filhas. O falecer de Nicolle, mas somente eu sabia disso então, o meu falecer.
Mamãe recebeu a notícia chorando, confesso que perante a isso até me surpreendi, não imaginava que ela sentisse o mínimo que fosse de amor por mim, mas agi neutra diante de tal surpresa, poderia ser uma surpresa para mim, mas para Nicolle jamais seria. Outra surpresa para mim foi ela não perceber minha farsa. Na minha cabeça minha atuação estava extremamente péssima, eu sentia a qualquer momento estar sujeita a ser descoberta. Mas apesar da minha insegurança, nunca me descobriram, não antes que eu fizesse o que Nicolle sempre quis fazer e lhe faltava coragem, não antes de eu transformar minha mente na mente de Nicolle.
Eu e minha irmã éramos grandes confidentes. Em horas vagas conversávamos sobre nossos sonhos, desejos... Mas era como um jogo, tudo o que revelávamos uma para a outra, deveria ser mantido em segredo fosse o que fosse. E foi nesse jogo que eu descobri que Nicolle poderia ser certinha, mas estava longe de ser Santa.
Quando fomos para casa papai se encarregou de preparar o velório da falecida, o meu velório. No dia pude perceber quem eram as pessoas que realmente se importavam comigo... Apesar de ser bizarro ir ao meu próprio enterro, ser a única que sabia que o corpo de outra pessoa estava no caixão era mais bizarro ainda... Ver mamãe abraçada a mim enquanto dizia estar feliz por eu estar viva era como entrar em outra dimensão, uma sensação indescritível, um amor que eu nunca imaginei receber. É claro, eu sabia que aquele amor era direcionado a Nicolle, não a mim, mas parte de mim tentava acreditar no contrário, tentava acreditar que era um amor igualado para ambas as filhas, mas que nossa mãe não demonstrava por algum motivo. Hoje vejo que me auto iludia.
Os dias se passaram e ninguém percebeu que a "ovelha negra" estava viva, usei as roupas de Nicolle, falei como Nicolle, virei caseira como Nicolle, comecei a convencer até a mim mesma de que era Nicolle. E foi isso que transformou meu disfarce, em problema.
As pessoas costumam imaginar que quando se tem um gêmeo é legal usar roupas iguais, substituir um ao outro para enganar as pessoas e coisas do tipo mas, é definitivamente ao contrário, você não quer ser confundido com seu irmão, você quer ser diferente. Reconhecido como você mesmo, não como alguém a quem você toda a vez que olha, sente estar olhando um espelho. E é exatamente isso, que minha família não entende, que minha família nunca entendeu.
Minha mãe minha vida toda me repreendeu por querer que eu fosse minha irmã. Digo, ela queria que além de ter a aparência, eu também agisse de forma idêntica a Nicolle, algo que eu de forma alguma desejava, apesar de sermos bem próximas.
Eu e minha irmã costumávamos ser muito amigas, eu contava tudo a ela e ela tudo a mim. Saíamos juntas, apoiávamos uma a outra no que quer que fosse... Resumidamente, tínhamos uma relação vinculada como qualquer irmão costuma ter, porém, não tínhamos os mesmos hábitos. Como por exemplo: eu gostava de ir a festas e beber, minha irmã era caseira e odiava álcool; Eu já não era mais virgem, minha irmã zelava pela virgindade até o casamento... e por assim vai.
Esse era o motivo que fazia mamãe me odiar como filha e desejar que eu fosse como sua favorita. Mas, apesar de tudo isso, eu compreendia o pensamento dela. Jamais havia sentido ódio de mamãe devido à suas exigências, pelo contrário, eu me magoava e buscava entender seus motivos mesmo que fossem os mais antiéticos e egoístas possíveis... Minha irmã não era perfeita, mas aos olhos dela, era melhor do que eu, que era como a ovelha negra da família, continha tudo o que minha mãe mais desprezava na vida. O real motivo que a fazia também me desprezar.
Papai, por outro lado, não opinava nem apitava. Não repreendia a imoralidade que mamãe cometia contra mim, nem dizia concordar com ela, apenas fazia o que sempre fez desde que me entendo por gente e posso lembrar: chegava do serviço, ignorava a família, e dormia.
Com o restante da família era tranquilo. É claro, haviam aquelas tias puxa-sacas que concordavam com mamãe me tratar mal mas, eram poucas, duas ou três talvez.
Mas houve um dia em que mamãe passou dos limites com sua implicância exagerada... Era o dia em que haveria a festa de formatura da escola, eu estava prestes a sair com minha irmã e o garoto que era meu namorado na época 一 meu último namorado, talvez também o último que eu terei na vida. E quando ele chegou para buscar nós duas para o nosso compromisso, mamãe humilhou a nós dois, dizendo que eu não era uma pessoa decente e que por isso havia me envolvido com ele, que segundo ela, também era indecente. Mas ela não parou por aí, também exaltou que sentia desprezo por mim e que era angustiada por me ter como filha, dizendo que antes ela tivesse dado a luz somente à minha irmã do que ter tido gêmeas para se lamentar todos os dias por ser mãe de uma delas.
Depois de seu desabafo e discurso de como segundo ela se comportava uma pessoa decente, 一 ela deixou bem na cara que estava descrevendo minha irmã 一 mamãe subiu as escadas de nossa antiga e bem conservada casa e se direcionou a seu quarto, onde bateu a porta com a mais pura e insensível raiva que sentia de mim não só naquele momento, mas sempre que nos encontrávamos pela casa.
Aproveitei a oportunidade e disse a Steven(meu namorado) que deveríamos sair antes que ela decidisse voltar... Nicolle me encheu de pedidos de desculpa, dizendo que não se orgulhava das palavras de mamãe e que se sentia mal por ela me tratar daquela forma.
Steven me questionou praticamente o caminho todo de como eu conseguia viver sendo tratada daquela maneira pela minha própria mãe e, como sempre, meu único argumento foi dizer tentar compreender os motivos dela. Algo que ele me disse imaginar eu ser a única que conseguia fazer.
No final da noite, fora o clima tenso que as palavras que mamãe havia dito haviam causado, a festa havia sido boa. Na volta para casa Steven nos ofereceu carona e, como já contávamos com isso, entramos no carro intencionadas a um destino que não aconteceu. Graças ao nosso motorista. Graças a Steven.
Ele havia bebido muito àquela noite, eu e Nicolle não havíamos notado isso pois havíamos passado a noite toda conversando sobre o ocorrido em casa e sobre a diferença com a qual mamãe tratava cada uma de nós. E, por culpa disso, assinamos uma sentença. Por culpa de mamãe 一 e, por parte, de Steven 一 sofremos um acidente.
No caminho para casa Steven acelerou o carro como um foragido fugindo da polícia, eu o adverti que diminuísse a velocidade mas, segundos depois 一 antes mesmo que ele pudesse pensar em fazer isso 一 Steven perdeu o controle do automóvel e o carro bateu a roda em uma grande pedra com um impulso tão forte, que capotou com o impacto. Desmaiei de imediato e, quando despertei, Steven e Nicolle ainda estavam desacordados. Minha perna havia quebrado e meu corpo estava coberto de sangue, tentei me mover mas uma dor vinda do meu joelho para baixo me impediu de me arrastar para fora do carro, a dor de um osso quebrado. Me inclinei até Steven a fim de ver se haviam batimentos, pulso, ou qualquer coisa que indicasse que ele estava mesmo desmaiado mas, não ouvi nada além da sirene da ambulância vindo com socorro, até que, desmaiei mais uma vez. Quando acordei estava no hospital, coberta de ataduras pelo corpo e com um enorme gesso na perna. Assim que abri meus olhos uma enfermeira me abordou com um papel e uma caneta na mão me questionando se eu lembrava o contato de alguém da família ou a senha do meu celular. A primeira coisa que falei antes mesmo de responder a pergunta, foi que queria saber se minha irmã e meu namorado estavam bem. A moça se negou a responder, disse que não tinha a autorização de um médico para responder qualquer pergunta feita pelos pacientes mas, eu gritei com ela... Afirmei que tinha o direito de saber a verdade e ameacei não responder nada até saber notícias dos meus entes queridos. A enfermeira ficou nervosa e rapidamente saiu para perguntar aos médicos qual seria o estado de Steven e Nicolle e se poderia compartilhar tais informações comigo. Em seguida ela voltou, me dizendo que Steven estava em coma e que Nicolle havia falecido, e eu não disse nada a ela, nada que não fosse pedir para ficar sozinha.
Não há como descrever a tristeza a qual fiquei após receber tais informações. A primeira coisa que passou na minha mente, antes mesmo da falta que Nicolle faria a mim, foi como mamãe receberia àquela notícia. Ela ficaria arrasada... me culparia, se culparia e eu imaginava haver grande chance de que, por fim, ela se mataria.
Então, depois de muito me preocupar de como o estado emocional de mamãe iria ficar, me veio uma ideia à mente, uma ideia que me fez tomar uma decisão complicada e, no mínimo, peculiar: decidi ser Nicolle. Éramos gêmeas, mamãe não perceberia o disfarce caso eu agisse como minha irmã agia. Eu só precisaria ser meiga, educada, amável... Só precisaria imitar o modo de ser de Nicolle, eu era a pessoa mais próxima dela, não seria um desafio tão dificultoso. Talvez o desafio real na verdade fosse sentir de perto a diferença de amor ao qual mamãe tratava a suas filhas. Fosse ser tratada bem, não por mamãe amar a mim, mas por pensar eu ser minha irmã, e amar mais a ela, sua 一 falecida 一 favorita.
Quando já preparada para botar meu plano em prática, esperei uma visita da enfermeira para perguntar se ela poderia me dizer se haviam pego a bolsa que estava com minha irmã no banco de trás do carro na hora do acidente. Informei que ela continha meu telefone, o da minha irmã e nossas identidades, mas a moça me contou que um dos telefones havia quebrado e que o outro estava em um bom estado. Pedi que ela me trouxesse a bolsa para que eu visse se era o meu que havia estragado e, por sorte, era. Estava tudo de acordo para que ficasse o mais convincente possível minha farsa.
Eu sabia a senha do celular de Nicolle, então desbloqueei como se fosse meu, estava com pouca bateria mas tinha o suficiente para que eu anotasse o contato de algum familiar. Então, como Nicolle e mamãe eram muito próximas, pedi que ligassem para minha mãe, era o que Nicolle com certeza faria naquela situação.
A enfermeira pegou as identidades na mão e me questionou qual das gêmeas eu era... então eu apontei para o documento da falecida e disse me chamar Nicolle. Após alguns minutos mamãe chegou ao hospital acompanhada do nosso pai. A primeira coisa que ela fez foi perguntar à enfermeira onde estava sua outra filha, é claro, não antes de ela me abraçar e beijar com um grande carinho, não antes de demonstrar seu afeto por Nicolle. Mas a enfermeira disse que chamaria o médico responsável por nós duas e, assim que ele veio anunciou a mamãe o falecimento de uma de suas filhas. O falecer de Nicolle, mas somente eu sabia disso então, o meu falecer.
Mamãe recebeu a notícia chorando, confesso que perante a isso até me surpreendi, não imaginava que ela sentisse o mínimo que fosse de amor por mim, mas agi neutra diante de tal surpresa, poderia ser uma surpresa para mim, mas para Nicolle jamais seria. Outra surpresa para mim foi ela não perceber minha farsa. Na minha cabeça minha atuação estava extremamente péssima, eu sentia a qualquer momento estar sujeita a ser descoberta. Mas apesar da minha insegurança, nunca me descobriram, não antes que eu fizesse o que Nicolle sempre quis fazer e lhe faltava coragem, não antes de eu transformar minha mente na mente de Nicolle.
Eu e minha irmã éramos grandes confidentes. Em horas vagas conversávamos sobre nossos sonhos, desejos... Mas era como um jogo, tudo o que revelávamos uma para a outra, deveria ser mantido em segredo fosse o que fosse. E foi nesse jogo que eu descobri que Nicolle poderia ser certinha, mas estava longe de ser Santa.
Quando fomos para casa papai se encarregou de preparar o velório da falecida, o meu velório. No dia pude perceber quem eram as pessoas que realmente se importavam comigo... Apesar de ser bizarro ir ao meu próprio enterro, ser a única que sabia que o corpo de outra pessoa estava no caixão era mais bizarro ainda... Ver mamãe abraçada a mim enquanto dizia estar feliz por eu estar viva era como entrar em outra dimensão, uma sensação indescritível, um amor que eu nunca imaginei receber. É claro, eu sabia que aquele amor era direcionado a Nicolle, não a mim, mas parte de mim tentava acreditar no contrário, tentava acreditar que era um amor igualado para ambas as filhas, mas que nossa mãe não demonstrava por algum motivo. Hoje vejo que me auto iludia.
Os dias se passaram e ninguém percebeu que a "ovelha negra" estava viva, usei as roupas de Nicolle, falei como Nicolle, virei caseira como Nicolle, comecei a convencer até a mim mesma de que era Nicolle. E foi isso que transformou meu disfarce, em problema.
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