A Carona [ Parte 5 - Final ]

  Levamos o lixo humano que capturamos para um dos quartos nos quais ele prendia suas vítimas. Irônico, não? Por tanto tempo ele encarcerara garotas, e agora ele era quem se via encarcerado. Quando acordou, é claro, se viu acorrentado pelas mesmas correntes que antes prendiam a pobre menina que sem saber, cometia canibalismo. Assim que ele abriu seus olhos enrugados e de olhar insano, se deparou com eu e minha irmã, paradas, sentadas em duas cadeiras à poucos metros — o suficiente para que as correntes não o possibilitassem nos alcançar — dele, o observando. A primeira coisa que ele notou, antes mesmo de olhar para seus pulsos acorrentados e seus ferimentos abertos, foi uma garrafa de alvejante branca que eu segurava em uma de minhas mãos.

  Não é preciso ler mentes para ter notado o medo tomar conta de seu ser. Com certeza, a pergunta que atormentou sua mente naquele exato momento, havia sido relacionada a o que a garrafa em minhas mãos carregava. E eu me senti ótima ao ver que o ar de preocupação pairava sobre sua cabeça, eu estava amando ver aquilo, eu estava amando cada detalhe da aventura perigosa que estava vivendo.

  Após dar um sorriso macabro e contínuo enquanto o encarava, levei meus olhos à garrafa, abrindo-a lentamente enquanto balançava a cabeça e ria como se uma piada acabasse de ter-me sido contada. Minha irmã por um momento me olhou, e em seus olhos pude ver que eu estava começando a assustá-la... Mas ela não havia com o que se preocupar, estávamos juntas naquilo, se eu enlouquecesse, ela estaria louca comigo — já que também já tinha sangue em suas mãos.

  Assim que abri a garrafa me direcionei a ele. Estava sentado no chão, e quando me aproximei levou suas mãos à cabeça, como se isso fosse o proteger caso fosse algum ácido. Pude ver seu alívio quando virei a água sobre seu corpo. Era engraçado como ele já estava esperando que o pior viesse a castigá-lo. Consciência pesada talvez... Quando despejei todo o líquido da garrafa sobre ele e fui me retirando, ele esfregou as feridas com um pouco de água que ficara em sua pele, tentando limpá-las. Inútil... É claro que não precisava, era óbvio que eu não o deixaria sair vivo daquela.

  Eu e Natieli nos retiramos do quarto logo em seguida. As meninas já haviam ido embora à aquela altura, estávamos sozinhas no covil do nosso mais novo prisioneiro, mas era só questão de tempo para que elas tivessem informado à polícia e um camburão chegasse para resolver o que nos mesmas resolveriamos. Então, precisávamos agir rápido com nossa vingança e diversão macabra, pois nem sequer sabíamos aonde estávamos e se ficava muito longe de alguma delegacia. Em outras palavras... teríamos que agir "às cegas".

  Natieli foi até a cozinha e apanhou tudo o que achava que seria necessário para "acabar com a raça" daquele verme mantínhamos em cativeiro. Ela levou cutelos, facões e até espetos de carne para o quarto em que ele estava. Achei interessante... Aqueles espetos podiam me servir para algo, acabaram por despertar minha imaginação! Enquanto ela juntava tudo o que encontrava de cortante pela casa, eu estava à procura de algo que o medo da nossa própria "vítima" havia me sugerido: ácido...

  Encontrei outra garrafa branca em um armário da cozinha... Algo me disse que era aquilo mesmo o que eu procurava, se fosse, explicaria o porquê o maníaco arregalara seus olhos para a garrafa branca que eu segurava em minha mão anteriormente. Mas eu precisava ter certeza... Então, já que na própria cozinha haviam diversas partes de corpos humanos espalhados sobre a pia, aproveitei-me disso, virando o líquido da garrafa em cima de uma delas e esperando a reação que a pele teria diante dele.

  Sucesso. A pele começou a ser corroída enquanto o líquido borbulhava levemente e comia toda a carne que via pela frente. Não era nem necessário saber de que ácido — era sulfúrico, imagino eu, provavelmente era o que ele usava para se livrar dos ossos das garotas a quem matava — se tratava, a reação que tivera já era perfeita para mim, estava conforme meus planos, era o que importava.

  Levei a garrafa até o quarto e pedi a minha irmã que me ajudasse a acorrentá-lo de forma que ficasse de em pé. Demos uma maneira de fazer com que as correntes o imobilizassem de braços abertos em sentido nordeste e noroeste virados para a parede, deixando-o pé. Não foi difícil, haviam argolas na parede que facilitaram-nos isso, não éramos as primeiras a torturar alguém ali. Você deve imaginar porquê. Rasguei sua camisa e tirei sua roupa, ele já devia estar acostumado a estar daquela forma — principalmente naquele quarto, que antes abrigava uma de suas vítimas de abuso sexual —, mas não preso, imóvel... pude ver isso estampado em seu rosto.

  Assim que posicionado da forma correta e completamente nu, demos início ao martírio que por ele esperava. Mas as honras de desferir o primeiro corte dei à minha irmã, alcançando-lhe um facão afiado e já imaginando qual seria o local escolhido por ela para cortar. Natieli mirou a lâmina na região, e rapidamente retirou fora o membro que julgo que dias antes era o mais importante do nosso "querido" assassino: o pênis. Ele gritou de dor por longos minutos, mas minha única reação, por outro lado, foi rir. Rir histericamente em homenagem a todas as meninas que por ele haviam sido molestadas, que pelas suas mãos haviam sofrido.

  Quando me lembrei de que o tempo era curto, agarrei a garrafa de ácido nas mãos e antes mesmo que ele pudesse sentir-se amedeontado pelo o que nela continha, despejei o fluido sobre seu corpo. Especialmente nas áreas feridas, e na região que antes ele tanto usava. Ele gritou diante da ardência que imagino ter sentido... quanto a mim, somente via sua pele ser consumida e causar-lhe uma dor constante enquanto minha irmã lhe esfaqueava ainda mais. Eu me realizava vendo aquilo...

  Por fim, contudo, após livrar-me de todo o ácido contido na garrafa despejando-o totalmente em seu corpo, apanhei dois dos espetos que antes iluminaram minha mais perversa imaginação e, com puro prazer e ansiedade de vê-lo morto, finquei-o, atravessando-os desde a região de seus ombros até seu abdômen. Sua cabeça deslocou-se com exaustão para a frente logo em seguida... Exaustão pelo dono ter aguentado tanta dor, exaustão vinda do cérebro naquele momento desligado do psicopata a quem eu torturava. Psicopata que a partir dali, estava morto. Que a partir dali, era "vítima".

  Chequei se ele estava mesmo morto e, obtendo resposta positiva o desacorrentei. Eu e minha irmã pegamos nossas coisas — o canivete e a faca —, olhamos uma à outra ensanguentadas e finalmente pudemos sorrir ao ver o nosso trabalho feito. Fomos embora do lugar antes que a polícia chegasse, a cidade era a vizinha, percebemos isso quando saímos. Era uma área rural, coberta de árvores e campos na redondeza, a casa se fazia escondida por uma quantia grande de árvores e arbustos, mas não era impossível vê-la. Não avistamos mais  nenhum imóvel em todo o nosso passeio de volta para casa. Estava de noite e os poucos carros que passaram por nós, ou não notaram, ou não quiseram parar para perguntar o porquê estávamos cobertas de sangue. E o resto, você já sabe... nos livramos de um assassino, mas é quase impossível se livrar de vocês.

— E valeu a pena fazer justiça com as próprias mãos para depois vir parar aqui? — pergunta um policial, para Nátali, que acabara de pôr um fim em seu relato.

  Quase que em coro, ela e Natieli — que até então só escutava atentamente da cadeira do refeitório do manicômio a irmã contar a história —, respondem com orgulho e uma grande e preocupante quantia de insensatez:

— Sim, valeu muito a pena.


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