Assassino Noturno

  Algumas noites atrás passei a ter pesadelos. Era sempre a mesma coisa, eu acordava suado e ofegante, como se realmente tivesse acontecido. O sonho também era o mesmo, nele eu corria por uma estrada de terra à noite, parecendo fugir de algo, ou alguém, em meio à uma forte neblina que embaçava o cenário. Nunca aparecia quem estava me perseguindo, então, talvez eu só estivesse com pressa... não sei ao certo, é impossível saber.

  Sempre que eu acordava acordava com muito frio, como se a baixa temperatura do sonho ultrapassasse para a realidade e me "congelasse" enquanto dormia. Mas em uma noite foi diferente, depois de ver-me correndo na estrada, a cena acabou mudando, mudando para meu quarto, e me mostrando deitado na cama. Um pouco depois mudou de novo, e eu estava de pé, no escuro, com uma faca na mão e ensanguentado, olhando para a minha cama, enquanto era iluminado somente por meu abajur. Deitada na cama estava a minha mãe, coberta de facadas no peito e no abdômen. Com suas vísceras à mostra, era claro que eu que a havia matado.

  Assim que o sonho acabou, logo que me vi acordado, a primeira coisa que fiz foi correr até o quarto de mamãe... talvez eu quisesse ter a certeza de que não passava de um sonho idiota. Mamãe estava bem, quando contei a ela, ela me disse que não passava de um pesadelo, e que eu não deveria me preocupar com isso, pois estava tudo resolvido. Não entendi muito bem, mas confiei em mamãe e tentei não me preocupar mais o dia todo.

  À noite, após o jantar, senti-me cansado e fui me deitar mais cedo, talvez fosse meu físico me cobrando as últimas noites mal dormidas. Assim que adormeci me vi novamente no sonho, no mesmo sonho -  Ou pesadelo, melhor definindo. Mas este conteve alguns acrescentos, como o fato de mamãe ter se sentado na cama e conversado comigo enquanto eu segurava a faca, parecendo tentar me convencer de algo.

  Quando acordei senti um líquido sob meu corpo... Liguei o abajur e lá estava ela, ao meu lado, com suas tripas à mostra e toda esfaqueada, exatamente como no meu sonho. Mamãe estava morta, e ao sentir seu pulso me desesperei e tentei pensar em algo. Eu não sabia o que fazer, minha consciência pesou, então liguei para a polícia e me entreguei como culpado.

  Pouco tempo depois, quando investigaram o caso para ver se haviam provas contra mim, a verdade veio à tona. Apesar de a ocasião ter me feito imaginar isso, eu não era o assassino de mamãe. Enquanto eu dormia a casa havia sido invadida, e ao minha mãe e eu percebermos isso teríamos nos escondido no quarto, à espera de que o invasor se fosse. As provas disso vieram das câmeras de segurança da casa, que mostraram quando o assassino invadiu o quarto e lutou comigo, que tentei esfaqueá-lo enquanto minha mãe o batia.

  Ele vestia um sobretudo negro com capuz, era alto, grande e possuia porte o suficiente para resistir a uma luta de um contra dois. Me deu uma pancada na cabeça que fez-me desmaiar bem em cima da cama, o que foi o motivo de eu não me lembrar de nada e acordar pensando ter matado minha própria mãe. Mamãe tentou golpeá-lo, mas ele lhe desferiu diversas facadas com a mesma faca que antes eu segurava, e uma delas abriu seu abdômen, fazendo com que suas tripas caissem sobre o corpo. Assim, jogou-a na cama, morta, ao meu lado, da forma em que a encontrei.

  Segundo a polícia, o sujeito não levara nada. Não entendo porquê, de alguma forma, eu previ o assassinato de mamãe em meus sonhos... Mas a certeza que eu tenho, é a de que encontrarei o homem que matou minha mãe. E, dessa vez, ele não sairá impune. Pois, em meus sonhos agora, eu o encontro... e o mato.


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