O Emprego [Parte 1]

  Era para ser só mais uma noite qualquer de inverno no Kansas: clima seco, ar gélido e frio intenso. As ruas, avenidas e até os becos da minha cidade costumavam ficar calmos e vazios naquela época do ano, apartir das 21hs não se via quase ninguém na rua... As noites de inverno eram desertas, como se as pessoas temessem à mistura de frio e escuro que compunham o anoitecer na região. Ou talvez elas tivessem medo de outra coisa... esta que um estrangeiro desinformado como eu, viria a descobrir da pior maneira.

  Fazem cerca de 2 anos que eu me mudei para o Kansas. Vindo naturalmente do Brasil, nasci em uma família de classe alta, fanaticamente evangélica e repleta de costumes e tradições - cujas nem sempre eu concordava. Me mudei em busca de trabalho, da oportunidade de uma vida melhor e em razão da minha independência, já que saira da casa de minha família - onde morava até esta decisão aos meus 19 anos.

  Quando cheguei por aqui me sentia desnorteado por não conhecer nada do lugar e precisar urgentemente de um emprego... Mas não tardou muito e o destino me apresentou a minha "bússola", a mulher mais perfeita que já conheci e que não demorou para me apaixonar e tornar-se o amor da minha vida: Melanie.  Quando ainda estávamos nos conhecendo - antes mesmo do namoro - comentei com ela que estava desempregado, dependendo de minhas escassas economias e do dinheiro dos meus pais até arranjar um serviço... Foi quando ela me disse que seu pai procurava um ajudante de carga e descarga para a sua empresa, e eu, sem ao menos questionar a origem do serviço, aceitei que ela me indicasse para a função.

  Passados alguns dias, meu então futuro sogro me ligou para agendar uma entrevista. Eu mal posso descrever tamanha a felicidade que preencheu meu ser naquele momento... Anotei o endereço, liguei para Melanie para contar o ocorrido e ela me assegurou que eu já poderia considerar o emprego como meu.

  Chegado o dia da entrevista, me dirigi até o endereço que o pai de Melanie me dera dizendo ser o de sua empresa. As surpresas começaram por aí, quando ao chegar no local me deparei com uma imensa e muito bem conservada casa funerária. De início um grande arrepio percorreu a minha espinha, gelei por alguns instantes enquanto checava no papel se o endereço realmente era aquele... Mas era claro: o número 661 anotado era compatível com o embutido na parede avermelhada do imóvel à minha frente. Depois de alguns instantes refletindo que não havia tido outras opções de serviço até o momento, respirei fundo e adentrei o lugar... Estava na hora de aceitar novas experiências.


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