Capítulo anterior: https://psicontosonline.blogspot.com/2018/03/a-impostora-parte-1.html
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Poucos dias após o velório, já caseira e com tempo o suficiente para pensar em diversas coisas e relembrar o que minha irmã e eu costumávamos conversar em nossas noites em claro, acabei por pôr em prática uma ideia planejada e um tanto sombria que atormentava minha mente.
Nicolle, quando viva, sempre fora uma pessoa interessada no ocultismo, em bruxaria... e todos os assuntos gerais que envolvem terror. Principalmente, é claro, histórias reais de assassinato. Ela era uma pessoa muito boa, meiga, querida por todos... mas apesar de seu jeito certinho, possuía esse hobby obscuro que poucos sabiam que ela tinha. Sendo conscientes disso, somente as pessoas mais próximas a ela e eu (com exceção de mamãe).
Em nossas noites de conversa e segredos compartilhados, tínhamos costume de falar sobre esses assuntos que a interessavam, inclusive, isso era vagamente algo que ela tinha em comum comigo. Nessas conversas, trocávamos ideias do que faríamos na situação dos protagonistas dos filmes, das séries e das demais coisas envolvendo horror que assistíamos. Frequentemente falávamos sobre o que faríamos se nos acontecessem momentos de coragem e pura insanidade, quais seriam nossas ações se decidíssemos ignorar a ética e pôr nossos desejos obscuros em prática. E foi em uma dessas prosas que Nicolle me surpreendeu instantaneamente com sua mente psicopata escondida detrás de sua personalidade e aparência terna.
Ela tinha desejo ― curiosidade, ideia, vontade, chame como quiser... ― de matar nossos pais. De início, logo que ela me revelou isso, eu ri, pensando ser piada ou gozação dela para me assustar... Mas logo vi que estava longe de ser isso, pois ela começou a entrar em detalhes de como colocaria em ação seus planos caso fosse necessário, ou caso fosse louca. O que, segundo ela, tornaria o crime menos pesado para si, podendo alegar insanidade e caso viesse a obter sucesso com a alegação e convencesse o júri, apenas seria levada a tratamento.
É claro, me obriguei a perguntar diversas vezes se ela falava sério, esperando ela dizer que não passava de uma brincadeira ou algo do tipo. Mas suas palavras eram a mais pura e real sinceridade, e ela me disse o porquê.
Quando lhe questionei o motivo, a argumentação recebida foi de que ela não gostava de como nossos pais me tratavam. Eu fiquei um pouco surpresa com tal alegação, não esperava que minha irmã se incomodasse tanto com as implicâncias que eram direcionadas a mim... pelo menos não a ponto de pensar em cometer uma atrocidade em defesa disso. Depois de tal conversa, fiquei muito tempo com essa descoberta na cabeça, cheguei até a ficar alguns dias paranoica, e qualquer discussão negativa que havia dentro de casa já era motivo de eu perder meu sono, de olho em minha irmã para que o pior não acontecesse. Mas, com o tempo, acabei por considerar que aquela não havia passado de uma conversa normal e descartável, onde Nicolle e eu só havíamos trocado ideias a respeito de coisas que jamais teríamos coragem de fazer. Na minha cabeça, matar era uma delas... Inocência da minha parte...
Com a morte de minha irmã, o carinho que mamãe me exercia por imaginar eu ser ela e os pensamentos e lembranças que atormentavam minha mente, dia e noite, após ir ao meu próprio enterro e ver o corpo de outra pessoa no caixão, fui enlouquecendo aos poucos, até que uma porcentagem da insanidade adquirida viesse a dominar meu corpo e minha cabeça, me encorajando a fazer o pior. E não demorou muito para que um acontecimento viesse a me motivar a isso... De uma maneira ou outra, eu estava fadada a pagar por me passar por outra pessoa.
Certa noite, após a faculdade de medicina que eu estava cursando ― Nicolle queria ser médica, já havia feito concursos e havia sido aceita em um ― no lugar de minha irmã, quando cheguei à minha casa e me dirigi ao quarto, me deparei com ele todo bagunçado.
O armário estava quase vazio, e praticamente todas as roupas estavam jogadas na cama, desdobradas, e, além disso, a casa totalmente silenciosa. Curiosa e um pouco assustada, fui até o quarto de meus pais ver se havia alguém em casa. Quando cheguei lá, mamãe estava sentada na cama, com um caderno em mãos, lágrimas escorrendo de seu rosto e uma de suas mãos tampando a boca, como se a escrita que estava a ler fosse apavorante.
Ao perceber minha presença, ela me olhou com um olhar de acusação e desgosto, um olhar que eu jamais a tinha visto direcionar a Nicolle, somente a mim... Por alguns instantes, temi ela ter descoberto minha farsa, mesmo que isso não fizesse sentido, afinal, aquele não era o meu caderno. Aquele era o diário de Nicolle.
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Poucos dias após o velório, já caseira e com tempo o suficiente para pensar em diversas coisas e relembrar o que minha irmã e eu costumávamos conversar em nossas noites em claro, acabei por pôr em prática uma ideia planejada e um tanto sombria que atormentava minha mente.
Nicolle, quando viva, sempre fora uma pessoa interessada no ocultismo, em bruxaria... e todos os assuntos gerais que envolvem terror. Principalmente, é claro, histórias reais de assassinato. Ela era uma pessoa muito boa, meiga, querida por todos... mas apesar de seu jeito certinho, possuía esse hobby obscuro que poucos sabiam que ela tinha. Sendo conscientes disso, somente as pessoas mais próximas a ela e eu (com exceção de mamãe).
Em nossas noites de conversa e segredos compartilhados, tínhamos costume de falar sobre esses assuntos que a interessavam, inclusive, isso era vagamente algo que ela tinha em comum comigo. Nessas conversas, trocávamos ideias do que faríamos na situação dos protagonistas dos filmes, das séries e das demais coisas envolvendo horror que assistíamos. Frequentemente falávamos sobre o que faríamos se nos acontecessem momentos de coragem e pura insanidade, quais seriam nossas ações se decidíssemos ignorar a ética e pôr nossos desejos obscuros em prática. E foi em uma dessas prosas que Nicolle me surpreendeu instantaneamente com sua mente psicopata escondida detrás de sua personalidade e aparência terna.
Ela tinha desejo ― curiosidade, ideia, vontade, chame como quiser... ― de matar nossos pais. De início, logo que ela me revelou isso, eu ri, pensando ser piada ou gozação dela para me assustar... Mas logo vi que estava longe de ser isso, pois ela começou a entrar em detalhes de como colocaria em ação seus planos caso fosse necessário, ou caso fosse louca. O que, segundo ela, tornaria o crime menos pesado para si, podendo alegar insanidade e caso viesse a obter sucesso com a alegação e convencesse o júri, apenas seria levada a tratamento.
É claro, me obriguei a perguntar diversas vezes se ela falava sério, esperando ela dizer que não passava de uma brincadeira ou algo do tipo. Mas suas palavras eram a mais pura e real sinceridade, e ela me disse o porquê.
Quando lhe questionei o motivo, a argumentação recebida foi de que ela não gostava de como nossos pais me tratavam. Eu fiquei um pouco surpresa com tal alegação, não esperava que minha irmã se incomodasse tanto com as implicâncias que eram direcionadas a mim... pelo menos não a ponto de pensar em cometer uma atrocidade em defesa disso. Depois de tal conversa, fiquei muito tempo com essa descoberta na cabeça, cheguei até a ficar alguns dias paranoica, e qualquer discussão negativa que havia dentro de casa já era motivo de eu perder meu sono, de olho em minha irmã para que o pior não acontecesse. Mas, com o tempo, acabei por considerar que aquela não havia passado de uma conversa normal e descartável, onde Nicolle e eu só havíamos trocado ideias a respeito de coisas que jamais teríamos coragem de fazer. Na minha cabeça, matar era uma delas... Inocência da minha parte...
Com a morte de minha irmã, o carinho que mamãe me exercia por imaginar eu ser ela e os pensamentos e lembranças que atormentavam minha mente, dia e noite, após ir ao meu próprio enterro e ver o corpo de outra pessoa no caixão, fui enlouquecendo aos poucos, até que uma porcentagem da insanidade adquirida viesse a dominar meu corpo e minha cabeça, me encorajando a fazer o pior. E não demorou muito para que um acontecimento viesse a me motivar a isso... De uma maneira ou outra, eu estava fadada a pagar por me passar por outra pessoa.
Certa noite, após a faculdade de medicina que eu estava cursando ― Nicolle queria ser médica, já havia feito concursos e havia sido aceita em um ― no lugar de minha irmã, quando cheguei à minha casa e me dirigi ao quarto, me deparei com ele todo bagunçado.
O armário estava quase vazio, e praticamente todas as roupas estavam jogadas na cama, desdobradas, e, além disso, a casa totalmente silenciosa. Curiosa e um pouco assustada, fui até o quarto de meus pais ver se havia alguém em casa. Quando cheguei lá, mamãe estava sentada na cama, com um caderno em mãos, lágrimas escorrendo de seu rosto e uma de suas mãos tampando a boca, como se a escrita que estava a ler fosse apavorante.
Ao perceber minha presença, ela me olhou com um olhar de acusação e desgosto, um olhar que eu jamais a tinha visto direcionar a Nicolle, somente a mim... Por alguns instantes, temi ela ter descoberto minha farsa, mesmo que isso não fizesse sentido, afinal, aquele não era o meu caderno. Aquele era o diário de Nicolle.
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